Manuel Cardoso, Armando Gama, Américo Luís e Tozé Almeida adeptos da filosofia espiritual de Paramahansa Yogananda e da Música Progressiva do YES e GENESIS fundaram o TANTRA em 1976. O grupo destacava-se logo não só pelo investimento feito nos seus instrumentos e PA como revelava também uma certa ambição em competir com o melhor que se fazia lá fora quer a nível de encenação de espetáculos, quer ao nível dos próprios arranjos (complexos) que o gênero exige.
Em novembro de 1977, lançam, pelo selo Valentim de Camargo/EMI, ”Mistérios e Maravilhas” o melhor álbum de Rock português pré – Punk/New Wave. Desde logo a destacar a capa do disco, a indiciar uma quebra com o tom da época, parecendo mais uma imagem de Roger Dean (autor do visual dos YES). “Mistérios e Maravilhas” foi lançado num momento em que o Rock Progressivo estava em decadência, como já fora citado. Mas surpreendeu pelo seu sucesso. Sucesso este que pode ser creditado ao próprio estágio em que o Rock se encontrava em Portugal. Antes da Revolução de Abril de 1974 (Mais conhecida como “Revolução dos Cravos”), o Rock em Portugal, com poucas exceções, era baseado nos covers de bandas estrangeiras, como Beatles e Beach Boys, com apresentações em clubes ou pequenos teatros. De acordo com Aristides Duarte, em seu livro “Memórias do Rock Português”, o regime salazarista apenas tolerava o Rock, mas que dava o ar da graça através da sua censura, como foi no caso do álbum de estréia do QUARTETO 1111 e nas permissões para a apresentação de grupos estrangeiros. Ainda segundo Duarte, muitos grupos eram desfeitos por causa da guerra colonial e, mais tarde, por causa do engajamento na luta pelo fim do salazarismo. Somente após 1975 que começa a existir um Rock, de fato, português. E o Progressivo em Portugal, curiosamente, teve como um dos seus impulsos as apresentações do GENESIS em terras portuguesas, no ano de 1975. Também teve início ao surgimento de várias bandas que seguiam essa vertente. E uma delas foi o TANTRA, que surgiu em 1976 com o lançamento do compacto “Alquimia da Luz/Novos Tempos”. Quando do lançamento de “Mistérios e Maravilhas”, a formação do Tantra era Américo Luís (Guitarra e baixo), Manuel Cardoso (Frodo e guitarra), Armanda Gama (Órgão, teclados e sintetizadores) e Tozé Almeida (Bateria). Pelo fato de o som do Rock Progressivo ser uma novidade em Portugal, o disco (bem como todo o gênero em si) teve uma boa receptividade no momento em que foi lançado, contrastando com o momento em que o Prog Rock passava em nível mundial.
Este belo álbum contém fortes influências de bandas clássicas como GENESIS, YES e PINK FLOYD. É quase todo instrumental, somente duas faixas possuem letras: “À beira do fim” e “Partir Sempre”, coincidentemente a primeira e a última faixa, respectivamente. Mas nem por isso, deixa de ser um excelente álbum, apesar de todo o clichê que um álbum de Rock Progressivo pode ter: faixas longas, com belas harmonias instrumentais e (embora poucas) vocais, farto uso de sintetizadores, etc. Todas as seis faixas são excelentes, tendo destaque para as faixas “Á Beira do Fim” que com os seus teclados siderais, dá ao grupo uma aura espiritual, com a voz de Manuel Cardoso (também conhecido nos espetáculos ao vivo como “Frodo”) a dar o mote para um arranque jazzístico-picadélico até aos confins do universo. “À Beira do Fim…por mundos imaginados…”. O instrumental “As Aventuras de Um Dragão Num Aquário” com a viola de Cardoso a dar um toque Folk britânico pastoral, na melhor tradição de um Steve Howe ou Greg Lake. Os “Tours de Force” vêm sob as formas do tema – título, com uma empolgante linha de sintetizador, e a “Máquina da Felicidade”. Temas longos e estruturas melódicas complexas, com solos rasgados de teclados e guitarra e uma percussão com dinâmica multi-rítmica. Ao vivo o grupo estaria mais desinibido, livres das pressões temporais de um disco de vinil, esticando estes temas até quase ao infinito. Manuel Cardoso, entrega no final do disco o comando criativo a Armando Gama e a sua “Syntorquestra”, ou seja uma parafernália de teclados moog e sintetizadores com evidência nos temas “Variações sobre uma Galáxia” e “Partir Sempre”. Este último, sem dúvida o tema mais melódico do álbum, com possibilidades mais comerciais, graças á voz “festivaleira” de Gama. O álbum ganhou reconhecimento em todo o país e, posteriormente, em nível mundial, diga-se de passagem, sendo considerado um dos cem maiores da música portuguesa. O TANTRA viria a lançar mais dois discos (“Holocausto”, de 1978 e “Humanoid Flesh”, de 1981) até encerrar atividades em 1981. Mas o grupo foi reformado em 2003, tendo Manuel Cardoso como único membro original ainda remanescente na banda.
Este álbum, sem dúvida, mostra que Portugal tinha (e ainda tem) um Rock de primeira linha e que o país não vive só de fado e do conhecido “vira-vira”.
highlights ◇
Tracks:
1. A Beira Do Fim (11:01) ◇
2. Aventuras De Um Dragão Num Aquário (2:09)
3. Mistérios E Maravilhas (6:19)
4. Maquina Da Felicidade (13:39)
5. Variações Sobre Uma Galáxia (1:24)
6. Partir Sempre (9:29) ◇
Time: 54:01
Musicians:
- Armando Gama / keyboards
- Americo Luis / bass
- Manuel Cardoso / guitar
- To Ze Almeida / drums
1977 • Mistérios e Maravilhas
1978 • Holocausto
1981 • Humanoid Flesh
2003 • Terra
2003 • Live Ritual
2005 • Delirium
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