Artista: OPETH
País: Suécia
Gênero: Heavy Prog
Álbum: Pale Communion
Ano: 2014
Duração: 55:38
Músicos:
- Mikael Akerfeldt / vocais, guitarras, produção & mixagem, conceito da capa
- Fredrik Akesson / guitarras, backing vocals
- Joakim Svalberg / piano, teclados, backing vocals
- Martin Mendez / baixos
- Martin Axenrot / bateria & percussão
Com:
- Steven Wilson / backing vocals, mixagem
- Dave Stewart / arranjos de cordas
A banda foi formada em 1990, lançou seu primeiro disco em 1995, e estão ativos até hoje (out/2025), tendo lançado seu último disco no ano passado. Estão, seguramente, entre os maiores no gênero prog-metal, e não é preciso muito esforço para perceber isso. Basta ver que posição de destaque ocupam nos festivais dos quais participam, acompanhar a relevância de seus trabalhos entre ouvintes e entre resenhistas. Além do fato de apresentarem, no decorrer de toda a robusta discografia, uma diversidade/inventividade espantosas em sua musicalidade, e em suas propostas vocais. Só para complementar com três exemplos singelos, que me impressionaram quanto à relevância deles no cenário musical: segundo Mikael Åkerfeldt disse numa entrevista de junho de 2025, disposta no canal do youtube Sinusoidal Music, a participação de Ian Ânderson no último álbum deles (o lançado em 2024) foi resultado de uma negociação/comunicação que partiu do Ian, e pegou o OPETH de surpresa. Outro ponto que aparece nessa entrevista é sobre a colaboração entre ele e Steven Wilson, que desembocou num grupo chamado STORM CORROSION. Perguntado sobre a possibilidade de lançarem outro disco, Mikael pontua que ambos têm esse interesse, mas não o fizeram ainda pois até o momento não surgiram idéias novas que consideraram que se encaixaria melhor no formato do STORM CORROSION. Fazendo uso das palavras do próprio, "somos duas pessoas que não gostamos de repetir o que já fizemos". E também apareceu, nessa entrevista, considerações sobre o trabalho que Mikael realizou para a Netflix, na composição e execução da trilha sonora da série 'Clark". Com relação às influências deles, passam por CAMEL, PORCUPINE TREE, além de referências do metal e da música pop.
Para quem conhece essa banda, mas só um pouco dela, pode parecer surpreendente que eu tenha classificado esse disco como heavy-prog. Pois a banda é indicada por todos como prog-metal. Tanto eu, quanto os que classificam OPETH como prog-metal, estamos todos certos; afinal, estou classificando o disco, e não a banda - como em todas as outras resenhas que publiquei/publico aqui. Outro ponto importante sobre esse disco é que ele não tem guturais, e tem muitas passagens longas exclusivamente instrumentais. Isso não é exatamente uma surpresa, pois o disco anterior ao Pale Communion, e os dois posteriores, não tinham guturais. Achei muito interessante que, numa das entrevistas que assisti com o Mikael, ele fez umas considerações sobre a reação do público à ausência dos guturais: muitos dos fãs pediam nos shows (a esse respeito, ele menciona mais os ocorridos nos EUA), até mesmo de forma agressiva, que a banda imprimisse mais peso tanto ao instrumental, quanto aos vocais. De qualquer modo, em Pale Communion, o estilo é puxado para o gótico, ou dark, com algumas breves passagens menos dark.
Há outro ponto que me chama a atenção: está claro que, nos arranjos e harmonias, quiseram dar bastante destaque aos violões, que portanto quase sempre aparecem claros e cristalinos. Ademais, tem um trecho, longo, bem sinfônico, que alterna com partes mais low-profile, tipo só piano-e-voz com alguns acordes sinfônicos em segundo plano. De qualquer modo, não deixaram de ser OPETH, ou seja, de apresentarem um som pesado, denso e em tons graves. Outra coisa importante de se dizer sobre esse trabalho é que ele nunca fica muito acelerado; definitivamente, não é na velocidade que a obra se define como heavy-prog.
Agora irei falar especificamente sobre as faixas. A primeira já mostra uma das características neles que me atrai: o incrível fraseado que abre a composição é nitidamente guitar-oriented, mas não é executado pela guitarra (para ser mais exato, esse instrumento está longe de ser o principal, nessa introdução), e sim pelos sintetizadores/baixo/bateria. Logo em seguida entra, sim, a guitarra, mas dando, ainda, muito espaço ao synth e bateria. É pesado? Sim, mas numa medida absolutamente perfeita para meus ouvidos; inclusive, a própria guitarra, em um curto espaço de tempo, vai do grandioso ao dedilhado suave (esse suave, por enquanto, tem mais um clima nórdico, do que britânico). Em pouco tempo, um clima soturno entra, no piano, que em seguida começa a dialogar com uma guitarra bem suave e baixinha. Após essa parte, que é quase como um interlúdio, partem para um excelente fraseado doom-prog-sinfônico. Tudo se encaixa muito bem. Nessa parte tem vocais, que são até aveludados, ao mesmo tempo que têm um pouco de doom. A guitarra sola com grandiosidade e sem pressa, daí voltam para o refrão. Há umas mudanças sutis de arranjos e harmonias até o encerramento da composição.
A faixa seguinte começa com uma proposta com muitos tons graves, em todos os instrumentos. Os vocais estão mais encorpados - tudo apontando, pois, para um clima mais grave, até um pouco tenebroso. Daí entra um coral ESPETACULAR, salientado de forma brilhante pela bateria. A alternância dos vocais entre notas longas e curtas é marcante. Cara, que trabalho incrível nos vocais!! Gradativamente, algumas notas mais agudas são acrescentadas aqui e ali, pelos instrumentos, na composição, para fazer um contraponto aos graves, que são predominantes. Da metade em diante os vocais começam a ficar mais intensos, levemente rasgados. Passam a fazer umas cadências crimsonianas, é de tirar o fôlego. E vão reinserindo aqueles corais nos momentos certos (esses corais quase chegam a ficar repetitivos no finalzinho, mas não se preocupe, isso não estraga a música).
Caramba, a combinação de baixo/bateria/sintetizador que abre a 3a faixa me transporta diretamente para as florestas geladas mas cheias de histórias dos países nórdicos. E em breve fazem umas guitarradas intensas, magníficas. Esse baterista é absurdo de bom, não tanto pela técnica, e sim pela sensibilidade e coerência na escolha das cadências e viradas. Mais uma vez mostram diversidade nas idéias vocais, fazendo desmembramentos inesperados de sílabas. Quanta riqueza! Logo depois de 2min, entra um singelo e inspirado violão, que conduz os outros instrumentos, bem como os vocais. A guitarra está tranquila, lembrando Jan Akkerman. Daí, com 3:40, ficam pesados. A guitarra faz solos consistentes, um pouco abaixo da genialidade. O baterista consegue manter o altíssimo nível - até dão para ele um merecido descanso na parte seguinte, rsrs. Da metade em diante realizam umas combinações assombrosas de eletrônico com vocais sussurrados e esparsas notas graves no piano. Os tons graves continuam com a entrada da bateria, os vocais deixam de ser sussurrados. Em suma, a composição vai crescendo, misturando concepções viajantes com KING CRIMSON, para chegar numas pancadas apoteóticas, que me lembram o japonês MIDAS. Fecham essa composição repetindo o refrão com um belíssimo lirismo e leveza.
O violão abre a música seguinte. Os vocais estão bons. Tudo segue de modo agradável, mas fica melhor com a entrada do baixo, que infelizmente logo se retira. Essa faixa, em seus pouco menos de 5min, não engrena e não encanta. Não é uma faixa ruim, e tem sua importância (pelo menos para meu gosto pessoal, já que não gosto de obras que fiquem sempre pesadas o tempo todo, do início ao fim do disco).
A guitarra na introdução da 5a música quase chega a ser penetrante. Bem, logo vem um baixo com uma virada fenomenal! Os pratos vão sendo explorados muito bem, e no decorrer desse início o baterista vai aos poucos lançando mão de mais e mais recursos de seu instrumento. Chegando a harmonias grandiosas e riquíssimas. Os sintetizadores também vão crescendo. Antes de completar um minuto e meio, fazem mudanças significativas nas harmonias, muito inventivas, e logo depois dos 2min, percebe-se que mestres como GENTLE GIANT e KING CRIMSON estão presentes (aqui quero fazer um adendo: a própria banda cita CAMEL como uma influência; eu percebo isso, sim, diversas vezes, mas quase que exclusivamente nos teclados, e talvez na bateria). É uma faixa inteiramente e brilhantemente instrumental.
Na faixa seguinte, dedilhados gentis e calorosos no violão são acompanhados por vocais aveludados. Pouco adiante repetem o refrão com o acréscimo de mais instrumentos. Vão fazendo isso em ciclos que levam a composição a crescer gradativamente. Até chegar numa parte inspirada com uma guitarra à la Latimer. Tudo isso antes de chegar a 3min. Nesse momento ficam levemente doom, mantendo a composição simples e singela. Nesse trecho as idéias se perdem um pouco; mas pouco depois da metade ficam pesados e com cadências bem complexas, alternando solos de guitarra, num diálogo fervilhante. Fazem uma mudança de harmonia inconsistente, mas se reencontram mais adiante na música. As harmonias vocais ficam particularmente bem desenvolvidas no final.
Parece um passeio pela noite de alguma pequena cidade sueca, o início da penúltima composição. Num intervalo curtíssimo de tempo, quando entram um baixo-bateria-sintetizadores fabulosos. Graves, bem graves, numa mistura de cadência militar com suspense. Entram acordes de cordas, aumentando sutilmente a dramaticidade. Passados os 2min, acrescentam umas explosões sinfônicas. Aí vem uma calma, antes de um trecho grandioso. Nunca perdem o ritmo, mesmo com todas essas mudanças. Quanta habilidade no quesito composição! Vem um breve trecho um pouco repetitivo. Entretanto, da metade em diante, alguns novos timbres são distribuídos, com pequenas mudanças de arranjos. Muuito bom! Meio repentinamente duplicam algumas harmonias, trazendo ainda mais intensidade ao conjunto. Alguns segundos depois, se acalmam, e aqui não há nenhum destaque.
Emenda com a última faixa, numa execução liricamente sinfônica. O ritmo vai ficando mais robusto, buscando espaço no meio dessas cordas. O baixo vai criando notas longas simples mas magníficas. Os vocais parecem interpretar um lamento. Para minha surpresa param o que estava ótimo, para dar muito espaço a um lento piano, magnífico e tocante. Os outros instrumentos se inspiram nessa proposta, antes da transição para uma espécie de blues-rock pesado e meio doom. Usando efeitos para tornar os vocais mais metálicos, esses timbres combinam muito bem com as cordas, que têm por sua sutilezas emocionantes. Também percebo um certo clima de luto no conjunto. Em seu encerramento, o diálogo entre piano e cordas, mais as vocalizações, deixam uma marca de beleza no meu coração.
Esse disco saiu pela Roadrunner Records, em vários países, incluindo o Brasil. Minha edição é dupla, mas como as letras do encarte são minúsculas, e metade das informações do encarte não consegui ler, mesmo usando lupa, nem me arrisquei a tentar ler as letras. Só descobri que minha edição é a estadunidense, pois na contracapa tem um selo anti-pirataria do FBI. Ah, e também não escutei o segundo CD, que no caso é um DVD Blu-ray com o show desse disco, mais duas músicas.
Faixas:
01. Eternal Rains Will Come (6:43)
02. Cusp Of Eternity (5:35)
03. Moon Above, Sun Below (10:52)
04. Elysian Woes (4:47)
05. Goblin (4:32)
06. River (7:30)
07. Voice Of Treason (8:00)
08. Faith In Others (7:39)
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