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quarta-feira, agosto 20

MIKE OLDFIELD ● Tubular Bells II ● 1992

Artista: MIKE OLDFIELD 
País: Reino Unido
Gênero: Symphonic Prog
Álbum: Tubular Bells II 
Ano: 1992
Duração: 61:53

Músicos:
● Mike Oldfield: guitarras: double-speed, clássica e de 12 cordas. Violão, violão flamenco, baixo Wal MIDI, mandolin, banjo, violino (14), grand piano, Hammond (3,11-13), órgãos Farfisa (1,2,7,9) & Lowrey (10,11), sintetizadores & programação (EMU Proteus, Korg M1, Synclavier, Roland D50/550, Ensoniq SD1, Akai S100 sampler), timpani, glockenspiel, triângulo, tamborim, címbalos, percussão de brinquedo, palmas, bateria-baixo orquestral, sinos tubulares, vocais.
Sem sombra de dúvida, o primeiro Tubular Bells é a obra mais conhecida do enigmático e complexo Mike Oldfield. E, a meu ver, é um incrível exemplar de criatividade e coesão composicional. Eu acrescentaria que não é possível excluir esse disco de uma história (seja ela curta, longa, resumida ou bem completa) do rock progressivo. Dito isso, o(a) leitor(a) pode ficar intrigado(a) porque escolhi a segunda versão dessa obra para a presente resenha. Colocando em palavras bem sintéticas, é porque para mim, o TB II foi quando Michael Gordon Oldfield (seu nome de batismo) melhor explorou, arranjou, mixou e editou essa composição. Em outras ocasiões ele tentou re-criar essa obra outras, pois existem também o The Orchestral Tubular Bells, o Tubular Bells III (conheço esses dois e são fracos), The Millenium Bell (não conheço, e nem me animo a fazê-lo, já que suas pontuações são fracas em todos os sites que consultei) e Tubular Bells 2003 (bom), assim como umas versões live que também ganharam edição em CD ou DVD. Contudo, considero que o TB II é bem superior a todos esses. Vamos agora para a história do TB original: Oldfield foi bem precoce musicalmente, embora seus pais não fossem músicos, e na época somente sua irmã Sally demonstrou aptidão nessa área (como cantora). Anos depois seu irmão também se envolveria com música. Com 15 anos de idade Mike lançou, junto com ela, seu primeiro álbum. Nos próximos anos, além de conhecer figuras com formação orquestral (seja na música clássica, seja no jazz-rock), calhou dele descobrir numa das salas dos estúdios Abbey Road (onde ele trabalhou por um tempo como guitarrista de apoio) vários instrumentos sem uso. De forma auto-didata, foi aprendendo a tocar vários, tanto de percussão, quanto de cordas, assim como teclados em geral. E assim surgiu meio que naturalmente a gravação caseira do TB. Ele mostrou as fitas para algumas gravadoras, e todas rejeitaram. Após o fim da banda de Kevin Ayers, da qual ele fazia parte, um dos trabalhos que realizou foi integrar um grupo de músicos e artistas que viviam de uma forma meio comunitária na periferia de Oxford, que entre outras coisas encenou uma versão de Hair em teatros. Nesse ambiente intimista, algumas pessoas do grupo, em particular Tom Newman e Simon Heyworth, convenceram o dono do estúdio que estavam construindo a gravar sua obra. Foi uma tarefa hercúlea, dada a quantidade de instrumentos, overdubs e pin-ups usados para chegar ao resultado final. Mesmo assim, a única gravadora que mostrou interesse disse que tinham de inserir vocais. Desse modo, decidiram eles mesmos lançar pela recém-criada Virgin Records, que era dos donos do estúdio recém-inaugurado onde ocorreu a gravação. A aceitação de público e crítica foi imediato e robusto.
Poucos meses depois de ter sido lançado, teve um show dele no Queen Elizabeth Hall, em Londres, onde estiveram no palco Mick Taylor (ROLLING STONES), Steve Hillage, Fred Frith (HENRY COW), Ted Speight, David Bedford (tecladista com formação em música erudita), Kevin Ayers e Pierre Moerlen.
Nos EUA, as vendagens dessa obra não estavam boas. Contudo, em dezembro de 1973 foi lançado o filme O Exorcista, na qual o diretor, sem a permissão/autorização de Oldfield, usou um pequeno trecho de Tubular Bells na trilha sonora. Ao tomar conhecimento disso, afirmou não ter gostado da iniciativa. Não sei dizer se ele tomou alguma providência a respeito. Esse filme é considerado um clássico do terror, tornando-se um dos mais lucrativos do gênero em todos os tempos. Sua realização custou 12 milhões de dólares, sendo que arrecadou mais de 441 milhões.
Em 1977 ele montou sua própria gravadora, a Oldfield Music Ltd., através do qual lançou todos os seus discos a partir dali (com algumas poucas exceções, como a do próprio TB II, que saiu pela Reprise Records, mas depois veio a sair em vinil pela Oldfield Music). Esse selo lançou poucos trabalhos de outros artistas, e apenas muito raramente eram de progressivo.
Vamos, enfim, à resenha do disco. O piano que o abre é simplesmente maravilhoso! Os arranjos da parte mais conhecida da obra - o fraseado com sintetizador - está com timbres fabulosos e altura certa. As notas curtas da guitarra, entremeada com notas potentes, mais o coral, fazem uma combinação espetacular. As vocalizações são muito criativas e surpreendentes, com idéias que vão sendo combinadas com muita diversidade e sutileza. O baixo tem um vibrato incrível. O double-speed guitar não está encobrindo os outros instrumentos, e tudo pode ser escutado com assombrosa nitidez. Pouco depois da metade o fraseado fica grandioso, para certo tempo depois ficar levemente maternal, até chegar numa proposta mais intimista, com um belíssimo violão (ou cavaquinho, ou ukulele).
Para a próxima faixa temos uma seção rítmica bem robusta, enquanto o double-speed guitar e as outras guitarras assumem timbres mais graves. Estão também um pouco mais rápidas; o contraste com a cadência da faixa anterior fica muito bonito. Essa parte é curta, e emenda com a seguinte. Há um fraseado que liga as duas, semelhante ao famoso fraseado usado em O Exorcista. Entretanto, com outros arranjos e mudanças sutis de timbres. Logo em seguida, as harmonias ficam um tanto quanto lúdicas, por conta do violão e das encantadoras vocalizações; que execuções agradáveis de se ouvir! Tranquilas, leves, criativas e inspiradas. A bateria faz uma simples mas fabulosa combinação de pratos. Alguns dos sons nessa faixa vêm de gaita-de-foles (não sei dizer se emuladas ou não). Oldfield está constantemente apresentando sua inconfundível double-speed guitar, mas o faz com tanta sobriedade, sensatez e sensibilidade, que não se sobrepõe aos outros instrumentos, e ainda está muito orgânico com todo o restante. Mais uma vez volta aquele fraseado famosão, só que dessa vez um pouquinho diferente de novo, e em contundentes e magníficas combinações com harmonias mais grandiosas.
Na 4a faixa um baixo vai repetindo um fraseado, mas fazendo sutis mudanças constantes nos tons. A guitarra vai pinçando bem suavemente pequenas notas. Uma harmonia densa e baixinha vez ou outra aparece, bem melódica. No finalzinho a proposta fica festiva, fazendo uma transição para a próxima música, que vai rapidamente ficando mais grave. Que mudança bem executada! E que arranjo inventivo com o violão, assumindo cores mais noturnas e robustas, algo incomum no uso desse instrumento. Há uns efeitos vocais bem lá no fundo, que depois aparecem mais. A performance nessa faixa é cheia de detalhes, todos brilhantemente sendo cuidados para contribuírem na medida exata: os sintetizadores ora estão em arranjos semelhantes aos de quarteto de cordas, ora semelhantes aos de gaita-de-foles, ora como se fosse um xilofone. As guitarras e violões apresentam várias facetas rítmicas e melódicas. A bateria pouco aparece e o faz com excelência, usando sininhos e/ou pequenos pratos. Um pouco mais pro final o piano entra com precisão. O encerramento usa sons semelhantes aos de metais. Caramba, é muito impressionante a quantidade de idéias geniais que agregaram numa faixa, aliás bem curta.
A 6a faixa diminui bastante a "luz" do ambiente, isto é, torna tudo muito mais intimista; parecem haver um grande sino de igreja, bem ao fundo. Os vocais são "chorados" todo o tempo, o violão parece lamentar e/ou recordar algo melancólico. Que lindo! A ambientação que se forma desses elementos se juntando com o constante sintetizador é extremamente orgânico. No final há uma cadência e ritmo um pouco mais acelerados, servindo como preâmbulo para a próxima faixa, uma repetição de uma idéia interessantíssima já apresentada na obra original. Do que se trata? Começando com baixo e sintetizador, que vai repetindo um fraseado. A bateria e o coral entram, e o fraseado se mantém. Nada muito exuberante nem muito rico (ainda), apenas nos acordes e tempo suficiente para o ouvinte captar esse fraseado e "entender" que ele éo elemento central dessa composição. Feito isso, alguém diz - com a música rolando sem parar, e sem transições ou interlúdios - "grand piano", e esse instrumento entra, fazendo um complemento ao fraseado. Daí é dito "readen pipe organ" (entendi certo?), o mesmo entra também. Logo em seguida, "glockenspiel". A cada momento que se fala um instrumento, a harmonia e arranjos são feitos para conseguirmos escutar com nitidez aquele instrumento. É simples e concomitantemente sensacional. Bem, assim segue, com "bassa guitar", "vocal chords", "two slightly sampled electric guitar", "the venitian effect" (?), "digital sound processor" (a inclusão desse "instrumento" foi uma idéia absolutamente brilhante, para expor ao ouvinte a importância do avanço tecnológico tanto na música, como para a composição em si; já que a obra original, lançada em 1973, foi feita com poucos recursos tecnológicos). Algo que também vai se dando é que a música aos poucos segue crescendo, pois os timbres vão ficando um pouco mais agudos e altos. Até que chegam no "and, tubular bells". Lembro com espantosa nitidez do Mike Oldfield tocando os sinos, quando assisti na extinta TV Manchete o show com a apresentação na íntegra desse disco. Voltando à resenha, após tocar os sinos algumas vezes, "sorrateiramente" entra um consistente violão, pouco depois umas palmas (é onde param de tocar os sinos), com um violão extra. Aí vira uma festa dos instrumentos, explorando maravilhosamente o fraseado principal. Bem, a música vai diminiuindo, tanto de volume quanto de massa, até chegar num mavioso violão, para encerrar essa faixa poderosamente marcante. Já escutei isso dezenas, talvez centenas de vezes, mas ainda consegue tirar meu fôlego. Tanto é que dou uma pausa antes de retomar a resenha.
É com uma harmonia intrigante, gentil e acolhedora que abrem a 8a faixa. O coral faz, de leve, uns efeitos emocionantes, e a guitarra, com breves intervenções, dá um upgrade na composição. Tudo é tão orgânico que mal consigo discernir quais os instrumentos envolvidos. Sei que tem uma percussão com aquela vassoura como baqueta, tem piano, baixo, mas há mais instrumentos envolvidos que eu não soube identificar. Não é que a execução esteja confusa, é que tudo é extremamente orgânico e fluido. Combinando muitíssimo bem com o nome da faixa, "Weightless".
Uma melodia que parece uma canção de ninar abre a próxima música. Tem violão e sintetizador, os pratos aparecem bem raramente, só para melhorar o arranjo. Uns momentos depois a composição ganha em densidade. Não muito, apenas o suficiente para enriquecer as idéias já presentes. Na metade a proposta muda, fica um pouco mais acelerada, repetindo um belo fraseado, que logo depois se mantém, mas enriquecida com uma ampla paleta de cores, em uma alternância constante de instrumentos. É a primeira vez que o trabalho fica um pouquinho confuso, pois são muitas idéias juntas que, embora estejam muito bem trabalhadas, não resultou em algo tão genial quanto nas faixas anteriores.
A 10a música tem um pouco de canção de ninar e um pouco de new age progressivo. Muito bonito e angelical. Os sinos voltam, com um baixo esplendoroso. Guitarra e vocais fazem curtas intervenções, com um atabaque, baixo, marcando um ritmo constante. Outros instrumentos são apresentados. Também não é uma faixa com extrema coesão, mas ainda é muito boa.
Agora sim! As gaitas-de-foles que abrem a próxima composição estão muito elegantes e pomposas! A guitarra de Oldfield complementa de forma encantadora, e o sintetizador, quando aparece, marca muito bem a grandiosidade dos temas. Cara, é espetacular o momento em que entram em uníssono as gaitas-de-foles, uma bateria em marcha e a guitarra. Também tem coral, quando vai chegando no fim.
A antepenúltima faixa é uma esquisitice. Apesar de estar aqui bem melhor e mais compreensível do que na obra original, esse vocalista cavernoso quebra totalmente o clima; é grotesco mesmo. Talvez a intenção seja essa. De qualquer modo, mesmo que haja (e provavelmente tem) algum sentido interessante, inteligente e/ou instigante no que fizeram nessa composição, musicalmente não funciona bem. Acredito que poucas ou pouquíssimas pessoas apreciem.
A penúltima faixa parece uma canção budista, com um baixo muito reconfortante, guitarra gentil e envolvente. Lindíssimo! As harmonias são complexas, e ao mesmo tempo não cometem excessos, simplesmente fabuloso. Ao chegar no meio (para ser exato, um tiquinho depois), muda significativamente o compasso e a harmonia, mantendo o arranjo. Entra um singelo xilofone, seguido por baixo, corais e novamente a guitarra. Infelizmente, encerra meio que repentinamente, dando lugar à útima música.
Que é um country dispensável. Esse a meu ver é o grande defeito dessa obra (o mesmo vale para o original), pois termina com essa coisa que, apesar de ter um clima festivo bacana, nada tem a ver nem com progressivo, nem com new age, nem com nenhuma outra parte do disco. Bem, a única "vantagem" é que no disco de 1973 essa parte é bem mais enfadonha e repetitiva.

Faixas:
01. Sentinel (8:07)
02. Dark Star (2:16)
03. Clear Light (5:48)
04. Blue Saloon (4:43)
05. SunJammer (4:06)
06. Red Dawn (1:49)
07. The Bell (6:57)
08. Weightless (5:43)
09. The Great Plain (4:47)
10. Sunset Door (2:23)
11. Tattoo (4:15)
12. Altered State (5:17)
13. Maya Gold (4:01)
14. Moonshine (1:41)

Músicos convidados:
● Sally Bradshaw: vocalista solo.
● Susannah Melvoin: vocais.
● Edie Lehman: vocais.
● Jamie Muhoberac: teclados, Fx, loopings de bateria.
● (Nova York) Banda P. D. Scots Pipe: gaitas-de-foles.
● Banda Celtic Bevy: gaitas-de-foles.
● John Robinson: bateria (12).
● Eric Cadieux: programação, processamento digital de som.
● Alan Rickman: voz do mestre de cerimônias.


Discografia:
1973 ● Tubular Bells.
1974 ● Hergest Ridge.
1975 ● Ommadawn.
1975 ● The Orchestral Tubular Bells. Live.
1978 ● Incantations.
1979 ● Platinum.
1979 ● Exposed. Live.
1980 ● QE2.
1982 ● Five Miles Out.
1983 ● Crises.
1984 ● Discovery.
1984 ● The Killing Fields.
1987 ● Islands.
1989 ● Earth Moving.
1990 ● Amarok.
1991 ● Heaven's Open.
1992 ● Tubular Bells II.
1994 ● The Songs of Distant Earth.
1996 ● Voyager.
1998 ● Tubular Bells III.
1999 ● Guitars.
1999 ● The Millenium Bell.
2002 ● Tr3s Lunas.
2003 ● Tubular Bells 2003.
2005 ● Light + Shade.
2008 ● Music of the Spheres.
2014 ● Man on the Rocks.
2017 ● Return to Ommadawn.
2021 ● Dark Star - Live American Radio Broadcast.
2025 ● The Orchestral Hergest Ridge.

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