País: Espanha
Gênero: Jazz-Rock Fusion
Álbum: Mantra
Ano: 1979/2012
Duração: 47:15
Esse grupo iniciou como um trio, em Cadiz, no ano de 1977, sem tecladista, e logo começaram a realizar shows. Em parte do ano seguinte houve a troca de um dos membros. E os shows seguiam ocorrendo, como por exemplo em Porto Real, onde dividiram palco com CAI. Ainda em 1978 chegou um integrante novo: José Manuel Portela, que havia saído do grupo SUR. Durante as idas e vindas de membros, foram realizando shows e compondo material autoral. O grupo CAI ofereceu parte de seu equipamento e seu técnico de som para registrarem o material que estavam apresentando.
Desse modo, em 28 de setembro de 1979, gravaram, em 4 sessões, suas composições. Visitaram várias gravadoras em Madrid para poder lançá-las, mas após o desinteresse de todas, se desfizeram. Tito Alcedo, mais tarde nos anos 80, se juntou a um pianista para comporem música instrumental. Tato Macías trabalhou com os músicos Lole y Manuel, Kiko Veneno e Raimundo Amador, entre outros. José A. Ramírez montou a banda cover ECLIPSED. José Manuel Portela e Juan Ahumada abandonaram a carreira musical. E em algum momento as fitas originais das gravações se perderam. Contudo, reapareceram, e no 2o semestre de 1998 alguns dos membros deram uma melhorada na qualidade do som, e lançaram no soulseek o resultado, intitulando-o "Maqueta".
Quanto ao mesmo, o som abafado da bateria pode vir a causar uma má impressão logo de cara. Ou seja, a ambientação proporcionada para o início da faixa se perde bastante por conta da qualidade inferior da gravação. Contudo, bastam alguns segundos para as viradas e compassos do baterista me cativarem, muito intensas e técnicas. Os dedilhados rápidos na guitarra são de cortar a alma, belíssimos. Logo depois, notas mais longas na guitarra carregam a imaginação para todo o encanto do rock andaluz. Impressionante como já no primeiro lançamento mostram incrível maturidade para construir as transições entre as harmonias, e amplo domínio dos instrumentos. As semelhanças com o ICEBERG podem sim saltar aos ouvidos; só que MANTRA tem mais foco nas composições do que a citada referência, pois ICEBERG centrava bastante sua musicalidade nas estonteantes jams entre guitarra e órgão. Além disso, o guitarrista aqui domina a guitarra rítmica.
A segunda faixa está um pouco mais bem gravada. Começa com notas elegantes e penetrantes da guitarra. Aí a execução vai ganhando corpo, com um clima mais grave, espetacular! Há uma crescente expectativa de que a música vai conseguir crescer ainda mais, e em um dado momento encerram bem essa primeira parte. Passam para tons um pouco mais altos na próxima seção, mas é um delicioso blefe: quando se acha que vão manter o pé no acelerador, passam para uma pegada mais viajante, meio floydiana, onde o tecladista explora bem os loopings eletrônicos à sua disposição. Notas gentis são apresentadas como pano de fundo nos teclados, para uma calma e ao mesmo tempo consistente desenvoltura dos outros músicos. Nossa, são tantos fraseados marcantes, impressionante! Mais para o final temos algumas idéias andaluz sendo exploradas. As nuances dos arranjos são de tirar o fôlego nesse trecho.
A seguir, dedilhados rapidíssimos abrem a próxima música. Permanece a capacidade de enriquecer sutilmente por alterações nos arranjos. A seção rítmica é complexa e marcante, e novamente os tons adotados são magníficos. É a primeira música no álbum com vocais, o que não é o lado forte deles (convenhamos que é muitíssimo raro que uma banda só tenha lados fortes); de qualquer modo, ainda assim continuam mandando bem, até porque o instrumental predomina. O contraste entre os tons agudos da guitarra e os graves dos teclados é fabuloso. Mais para o final tem uns solos no órgão e guitarra.
Umas notas eletrônicas meio aleatórias, com barulho de chuva e trovão, marcam a introdução meio enigmática da 4a faixa. Mais uma vez, os teclados encontram os timbres certos para a proposta apresentada. Maravilhoso. Vão lentamente encontrando os sons e os tempos certos. Tudo vai se dando como um space-rock com atmosfera floydiana. Aumentam um pouco o volume de algumas notas, e então chegam na cozinha completa. O baixo sustentando muito bem o ritmo, os teclados mostrando versatilidade, e a guitarra transitando entre diferentes compassos e camadas. Passam para uma seção rítmica com pitadas de funk, muito robusta. Como conseguem manter o alto nível e a criatividade desse jeito, non-stop? Ficam mais acelerados a partir de uns 8min e meio, bem ICEBERG dessa vez. No final retomam alguns temas anteriores, misturando-os com magnificência. Encerram com um estilo meio fusion anos 80.
O começa da 5a faixa é um pouquinho pueril, no entanto logo se encontram. A genialidade não está lá no topo, pois as transições entre as harmonias não estão tão bem elaboradas agora, fazendo a composição ficar um tantinho confusa. De qualquer modo, a técnica está impecável, e alguns bons fraseados, sobretudo na guitarra e baixo, são relevantes. Percebo dessa vez uma influência clara de MAHAVISHNU ORCHESTRA nessa música. Mais para o final, um bom solo de bateria sobrevém antes do encerramento.
O início meio árabe da última música resgata mais uma vez o sentimento andaluz. Um pouco de PINK FLOYD misturado com o lado mais fusion de Canterbury dão o tom nesse trecho. Tudo com calma, sem pressa. Quando abrem os instrumentos aí a composição se encaixa ainda melhor; eu diria que identifico aqui um pouco do clima basco. Um tanto quanto repentinamente passam para uma abordagem mais densa e rápida. A gravação não ajuda. Mesmo assim vão crescendo, adicionando camadas e elevando a inventividade. Estupendo! Pena que mudam para uma levada meio eletrônico viajante, que não é ruim, só que quebrou o ritmo que estava tão bom. Vão novamente, sem demora, voltando a trazer notas mais ligeiras, e maior complexidade dos arranjos e harmonias. É por conseguinte uma música que alterna entre altos e quase-altos. Felizmente termina de forma espantosamente incrível.
Pois bem - em 2012 uma organização sem fins lucrativos denominado Arabian Rock, lançou uma coletânea de obscuridades, incluindo esse disco, atualmente um item meio difícil de adquirir.
Faixas:
01. Sanlúcar (5:10)
02. Bajo la sombra de un ciprés (9:35)
03. Acantilado (5:36)
04. Sacramonte (11:06)
05. Arco Iris (4:35)
06. Mantra (11:13)
Músicos:
Juan Ahumada Caputto / Guitarra
José Manuel Portela Ghessi / Teclados e vocais
José Antonio Ramírez Harana / Baixo
Tito Alcedo Gil / Guiitarra
Tato Macias Lamas / Bateria
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