País: Rússia
Gênero: Symphonic Prog
Álbum: Geese and Swans
Ano: 2010
Por bastante tempo pensei que o nome dessa banda fosse o nome de uma pessoa. E que portanto se tratava de uma carreira solo. Pois bem, posso te poupar desse engano e compartilhar que esse nome significa "Recusando com Polidez". A denominação veio de um dos membros, Pyotr Plavinsky. Sua importância na elaboração das letras e das composições foi tamanha, que mesmo tendo participado (diretamente) somente do primeiro lançamento, no decorrer de toda a discografia do grupo a influência de seu pensamento e propostas continuam presentes.
Pyotr, que pode ser traduzido como Peter ou Pedro, era irmão do artista Dmitry Plavinsky, um notório militante de idéias anti-soviéticas. Esse último pronunciava e exclamava publicamente seus slogans nas ruas da capital! Em algum momento dos anos 80 ele passou a se esconder em locais mais remotos de Moscou, de onde continuou sua batalha pela expressão da liberdade e da poesia. Voltando-nos para Pyotr, em um dado momento o mesmo passou a fazer parte da orquestra de câmara da Casa da Educação dos Trabalhadores. E junto com outros membros dessa orquestra, formaram o VEZHLIVY OTKAZ. No mesmo ano, em 1985, começam apresentações na capital, misturando jazz, música clássica e rock. Logo em seguida também passam a incluir elementos de folk music em suas composições. Pyotr logo desistiu da música e foi morar no interior, trabalhando como condutor de uma balsa para atravessar pessoas num rio. Roman Suslov, presente em todos os álbuns do grupo, assumiu a liderança do mesmo a partir do segundo release.
Lembro aos leitores que, apesar da Perestroika já estar em curso naquele período, os efeitos das mudanças e da abertura ao restante do mundo só chegaram bem depois na Rússia.
Minhas palavras sobre esse lançamento é que ele é bem diferente de todo o restante que já escutei deles. Escutei a compilação com músicas de 1987 a meados dos anos 90, e mais uns 3 outros lançamentos de estúdio. Enquanto esses estão num espectro que transita entre o RIO, o folk e um jazz de câmara, Geese and Swans tem os dois pés firmes no Progressivo Sinfônico, com apenas alguns elementos de RIO e sobretudo de folk.
Marchas de diferentes tipos estão bem presentes na obra. Sobretudo na 1a faixa, bem solene. No meio dela entram os sopros, igualmente marciais. Tudo muito robusto e encorpado, crescendo em complexidade até o final. A próxima música começa com um ritmo cativante e singular no violão. O piano faz uns contornos incríveis, ora líricos ora e suaves, ora firmes e impactantes. Essa faixa traz vocais, sensacionais. O russo cantado tem muita personalidade e virilidade. Os sopros dessa vez estão dissonantes, muito complexos de novo. Fazem uma mudança tanto de velocidade quanto de compasso no meio da composição, trazendo um andamento bem peculiar, deliciosamente caótico, antes de voltar ao tema inicial. Só que dessa vez há uma certa liberdade jazzística assumida pelos músicos. Caramba, que ritmo incrível imprimem na 3a música! As interpretações vocais combinam muitíssimo bem com essa vertente mais fluida e mais corrida. Como um rio que se recusa a ter seu fluxo interrompido. O disco todo é incrível, mas essa música consegue ser ainda mais maravilhosa. Os arranjos e diálogos são muito inventivos, as sutilezas nos arranjos são geniais. E eles vão com gentileza e precisão fazendo a música crescer, até o final, com vocalizações fantásticas. Encerram com um piano de cabaré. Na faixa seguinte, o piano abre com tanto carinho e entrega, que é impossível o violão não se inspirar e seguir a mesma vertente. Os vocais agora estão suaves e sem pressa, acrescentando algumas notas longas. O trompete, bastante onipresente em todo o álbum, agora está mais comedido. Agora, junto a essa gentileza intimista, os elementos de RIO que aparecem estão também menos intensos. A música vai quase imperceptivelmente mudando de uma proposta melódica para uma mais rítmica, mas volta para o approach mais melódico. No meio, na verdade um pouquinho, fica levemente repetitivo, nos arranjos e idéias. Só que por pouco tempo, pois retomam o lindo fraseado inicial no piano, acrescentando um violino magnífico. A quinta música tem uma vertente mais rítmica, sem o mesmo brilhantismo das outras faixas, mas as viradas da bateria, flauta e trompete estão ótimas. A sexta faixa baixa um pouco a bola, assumindo um caminho mais folk. Para ser mais exato, um folk soturno. Mesmo quando as harmonias, dessa vez, estão mais simples, os fraseados são encantadores; e a música foi colocada no lugar perfeito no álbum, pois com isso o ouvinte pode respirar um pouco. O início da próxima música também está meio folk, mas logo entre um piano que me lembra bem os andamentos de VIVALDI. Entra uma bateria marcial matadora! As mudanças que vão se sucedendo nos timbres do vocalista estão apuradíssimas. O violino contorna muito bem a composição, para enaltecer certas notas, e não deixá-las muito sombrias. Nossa, quanta profundidade chegam em meu coração com a 8a faixa, em seu jeito russo (encorpado e robusto) de criar uma canção blues. E o fazem com muita originalidade quando juntam com elementos de música clássica contemporânea (pelo menos eu percebo influências de STRAVINSKY). Interessantíssimo! A música vai crescendo, não de uma forma apoteótica. A genialidade do compositor está tão boa que esse crescendo está na dramaticidade. Mas o final é mais calmo. Já a faixa posterior tem um toque mais alegre (não muito). Os ritmos marciais estão presentes, dessa vez mais solar do que lunar. É uma excelente música, envolvente, mas sem a mesma inventividade e encantamento do restante do disco. A penúltima faixa tem um ritmo bem grave no piano e baixo, as marcações são meio perturbadoras, e os vocais dessa vez estão tensos. A música de encerramento é uma linda execução no violão, muito gentil, barroca e lírica. Alguns outros instrumentos acompanham aqui e ali a composição.
Faixas:
01. Марш / March (2:49)
02. Дорожная / Road Song (5:25)
03. Мурка / Murka (4:50)
04. Перевод / Transalation (Perevod) (7:57)
05. Страдания / Sufferings (3:35)
06. Тикирека / Flow River (Tikirika) (4:44)
07. Бурятская морская / Buryat Sea Song (6:16)
08. Блюз / Blues (5:55)
09. Время / Time (4:15)
10. LZ (4:04)
11. Этюд / Etude (3:44)
Músicos:
- Roman Suslov / violão, vocais
- Pavel Karmanov / grand piano, flauta, violino, vocais
- Sergey Ryzhenko / violino elétrico, vocais
- Andrey Solovyev / trompete
- Dmitry Shumilov / baixo, contrabaixo, vocais
- Mikhail Mitin / bateria, percussão
Discografia:
1986 ● Opera-86
1987 ● Пыль на ботинках / Dust On The Boots
1989 ● Вежливый отказ / Polite Refusal
1990 ● Этнические опыты / Ethnic Experiences
1992 ● И-И Раз!.. / Go To It!..
1997 ● Коса на Камень / Steel On Stone
2000 ● Vezhlivy Otkaz. Compilação
2002 ● Герань / Geranium
2003 ● Moscow - Pietr. Live
2007 ● Concerto (DVD+CD)
2010 ● Гуси-Лебеди / Geese And Swans
2013 ● We will win, Swallow. Compilação
2017 ● Военные куплеты / War Songs
2025 ● That's not about that talk
???? ● Concert in Kiev. Live
???? ● Mayakowski Museum. Live
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