MÁRIO
LOPES ● Quimera ● 2024 ● Portugal [Symphonic
Prog]
A formação musical de Mário Lopes, que reside na cidade de Évora, é bem eclética.
Primeiramente, ele se formou no Conservatório Regional de Évora - Eborae
Mvsica, e na Universidade de Évora. Depois
integrou a Orquestra Jazz de Évora, mas também colaborou com músicos tais como Kepa Junkera, Chico César, Rui Veloso,
Vitorino, Tim e José Cid, além de
dar aulas de bateria num colégio de música, e compor para teatro e cinema.
Sigamos para a resenha do único disco dele,
lançado esse ano.
Começa com o que parece ser um pedaço de um filme
passado na Idade Média. Advém um fraseado maravilhoso no violino, que dá
a vez para uma flauta bem doce. Tudo isso combina incrivelmente com o título da
canção. As seções rítmicas são espetaculares. Em certo momento os sintetizadores
se apresentam, e a composição vai ganhando densidade. Tudo instrumental, embora
num breve trecho tenha bem ao fundo um falatório. A composição está sempre no
progressivo sinfônico, mas tem contribuições de música folk. Ao final adota
tons mais graves, com uma pegada mais roqueira e até um pouco space-rock,
destilando fraseados penetrantes. Que música fabulosa!
A faixa “Grilo” tem, na maior parte do tempo, um
clima de passeio no parque ao fim da tarde. A música tem uma abordagem
crossover prog com toques jazzísticos. Na metade desenvolve umas dissonâncias,
e uns compassos e harmonias mais complexas. Flauta e flugel horn fornecem notas
agradáveis e amistosas.
“Saguim” tem um acento festivo, às vezes até
circense. Guitarra rítmica e trompete imprimem uma certa dose de swing à
composição, e isso segue no decorrer da maior parte da música. No meio um
delicioso cavaquinho, meio solando, meio no looping, antecede umas intervenções
tipo big band. Peça toda instrumental.
“Kalinka Lady tu” faz um uso hispânico do
mandolim, acompanhado por algumas palmas e um som parecido com sanfona.
Trompete sensacional completa a proposta, e me sinto no meio de um restaurante
espanhol. A tuba dá um toque grave, que antecedem vocalizações, breves, de
celebração. Execução gostosa com uma leve sensualidade.
“Uma espécie de chibo” tem um baixo alto, com uma
pegada funk-rock, e marcações rítmicas meio quebradas; e vez ou outra tem umas
viradas hard-rock. A sanfona aqui é usada num contexto diferente do habitual,
pois acentua uma atmosfera cuja palavra que recorro para descrever é de
“preocupação”, talvez até um certo ar de mistério. Na segunda metade de sua
duração, algumas frases curtas são cantadas. Encerra com uma pegada mais firme,
bem dizer um heavy-prog.
“Quimera” começa com uma voz sinistra sussurrando
e logo em seguida gritando “Quimera”. Sobrevém uma guitarra poderosa, que me dá
vontade de aumentar o volume. A viola e os atabaques, junto com xilofone, dão um contorno exuberante para esse início muito potente da suíte! Em dado momento participa
uma narradora: “Boa noite caros telespectadores, abrimos essa edição do
telejornal com uma notícia de última hora que dá conta do avistamento de uma
criatura misteriosa, na Freguesia de São Bento do Mato. Populares afirmam ter
visto uma cobra com um corpo não identificado. Os especialistas já estão a
cuidar da quimera”. A música segue, dessa vez meio crimsoniana.
A segunda parte da suíte tem um ritmo envolvente,
com uso de vários instrumentos de percussão. O piano, com bastante swing,
dialoga com alguns instrumentos de sopro, antes de começarem diálogos dos
instrumentos de sopro entre si. Composição riquíssima. Na metade traz uma
intervenção curtinha com influência árabe, para pouco depois enveredar em
ritmos latinos. Combinações surpreendentes que dão certo. No final a música vai
ganhando mais corpo ainda, e intensidade. Todo instrumental.
A última faixa tem um violoncelo melancólico, que
passa a ser acompanhado por uma seção rítmica tranquila. O clima muda, ficando
meio circense, mas um circense meio cabisbaixo. A composição é um pouco confusa
aqui. Só quando passa para um approach mais roqueiro ganha certa consistência e
sentido. Mas as quebras e mudanças constantes de cadências e compassos tornam,
pelo menos para mim, difícil de acompanhar as idéias apresentadas. E o
encerramento dessa faixa não é muito bem trabalhado.
Faixas:
01. Hidromel (6:25)
02. Grilo (4:50)
03. Saguim (4:52)
04. Kalinka Lady Tu (5:21)
05. Uma Espécie De Chibo (4:09)
06. Quimera (Pt. 1) (4:49)
07. Quimera (Pt. 2) (4:08)
08. Quimera (Pt. 3) (5:42)
Músicos:
Mário Lopes / drums, percussion, piano, bass (4
& 5)
Miguel Faria Monteiro / guitars, keyboards
Ivan Beck / bass (1, 3, 6, 7 & 8)
Jéssica Pina / trumpet (3, 4, 7 & 8), flugel
horn (2 & 7)
Ricardo Nascimento / tenor saxofone (1, 3, 7
& 8), flute (2, 7 & 8), tin whistle (1)
Felippe Figueiredo / tenor saxofone, soprano
saxofone (4)
Edu Miranda / mandolin (4), cavaquinho (3)
Andreia Vaz / violin, viola (1, 6 & 8)
Samuel Santos / cello (1, 6 & 8)
Carlos Menezes / doublebass (1, 2, 6 & 8)
Victor Zamora / piano (7)
Rodrigo Lino / baritone saxofone (8)
João Rasteiro / tuba (4 & 8)
Flávio Bolieiro / accordion (5, 6)
Grupo Cantares de Évora (5)
Duarte Farias / voice (5)
Duarte Gato / voice (5)
José Saruga / voice (6)
Mariana Caeiro / voice (1)
Beatriz Lopes / voice (4)
Muito bom. Também disponível em meu blog https://elemento---musical.blogspot.com/2024/05/mario-lopes-quimera-2024.html
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