domingo, dezembro 22

MÁRIO LOPES ● Quimera ● 2024 ● Portugal [Symphonic Prog]

MÁRIO LOPES Quimera 2024 Portugal [Symphonic Prog]

A formação musical de Mário Lopes, que reside na cidade de Évora, é bem eclética. Primeiramente, ele se formou no Conservatório Regional de Évora - Eborae Mvsica, e na  Universidade de Évora. Depois integrou a Orquestra Jazz de Évora, mas também colaborou com músicos tais como Kepa Junkera, Chico César, Rui Veloso, Vitorino, Tim e José Cid, além de dar aulas de bateria num colégio de música, e compor para teatro e cinema.

Sigamos para a resenha do único disco dele, lançado esse ano.

Começa com o que parece ser um pedaço de um filme passado na Idade Média. Advém um fraseado maravilhoso no violino, que dá a vez para uma flauta bem doce. Tudo isso combina incrivelmente com o título da canção. As seções rítmicas são espetaculares. Em certo momento os sintetizadores se apresentam, e a composição vai ganhando densidade. Tudo instrumental, embora num breve trecho tenha bem ao fundo um falatório. A composição está sempre no progressivo sinfônico, mas tem contribuições de música folk. Ao final adota tons mais graves, com uma pegada mais roqueira e até um pouco space-rock, destilando fraseados penetrantes. Que música fabulosa!

A faixa “Grilo” tem, na maior parte do tempo, um clima de passeio no parque ao fim da tarde. A música tem uma abordagem crossover prog com toques jazzísticos. Na metade desenvolve umas dissonâncias, e uns compassos e harmonias mais complexas. Flauta e flugel horn fornecem notas agradáveis e amistosas.

“Saguim” tem um acento festivo, às vezes até circense. Guitarra rítmica e trompete imprimem uma certa dose de swing à composição, e isso segue no decorrer da maior parte da música. No meio um delicioso cavaquinho, meio solando, meio no looping, antecede umas intervenções tipo big band. Peça toda instrumental.

“Kalinka Lady tu” faz um uso hispânico do mandolim, acompanhado por algumas palmas e um som parecido com sanfona. Trompete sensacional completa a proposta, e me sinto no meio de um restaurante espanhol. A tuba dá um toque grave, que antecedem vocalizações, breves, de celebração. Execução gostosa com uma leve sensualidade.

“Uma espécie de chibo” tem um baixo alto, com uma pegada funk-rock, e marcações rítmicas meio quebradas; e vez ou outra tem umas viradas hard-rock. A sanfona aqui é usada num contexto diferente do habitual, pois acentua uma atmosfera cuja palavra que recorro para descrever é de “preocupação”, talvez até um certo ar de mistério. Na segunda metade de sua duração, algumas frases curtas são cantadas. Encerra com uma pegada mais firme, bem dizer um heavy-prog.

“Quimera” começa com uma voz sinistra sussurrando e logo em seguida gritando “Quimera”. Sobrevém uma guitarra poderosa, que me dá vontade de aumentar o volume. A viola e os atabaques, junto com xilofone, dão um contorno exuberante para esse início muito potente da suíte! Em dado momento participa uma narradora: “Boa noite caros telespectadores, abrimos essa edição do telejornal com uma notícia de última hora que dá conta do avistamento de uma criatura misteriosa, na Freguesia de São Bento do Mato. Populares afirmam ter visto uma cobra com um corpo não identificado. Os especialistas já estão a cuidar da quimera”. A música segue, dessa vez meio crimsoniana.

A segunda parte da suíte tem um ritmo envolvente, com uso de vários instrumentos de percussão. O piano, com bastante swing, dialoga com alguns instrumentos de sopro, antes de começarem diálogos dos instrumentos de sopro entre si. Composição riquíssima. Na metade traz uma intervenção curtinha com influência árabe, para pouco depois enveredar em ritmos latinos. Combinações surpreendentes que dão certo. No final a música vai ganhando mais corpo ainda, e intensidade. Todo instrumental.

A última faixa tem um violoncelo melancólico, que passa a ser acompanhado por uma seção rítmica tranquila. O clima muda, ficando meio circense, mas um circense meio cabisbaixo. A composição é um pouco confusa aqui. Só quando passa para um approach mais roqueiro ganha certa consistência e sentido. Mas as quebras e mudanças constantes de cadências e compassos tornam, pelo menos para mim, difícil de acompanhar as idéias apresentadas. E o encerramento dessa faixa não é muito bem trabalhado.

 

Faixas:

01. Hidromel (6:25)
02. Grilo (4:50)
03. Saguim (4:52)
04. Kalinka Lady Tu (5:21)
05. Uma Espécie De Chibo (4:09)
06. Quimera (Pt. 1) (4:49)
07. Quimera (Pt. 2) (4:08)
08. Quimera (Pt. 3) (5:42)

 

Músicos:

Mário Lopes / drums, percussion, piano, bass (4 & 5)
Miguel Faria Monteiro / guitars, keyboards
Ivan Beck / bass (1, 3, 6, 7 & 8)
Jéssica Pina / trumpet (3, 4, 7 & 8), flugel horn (2 & 7)
Ricardo Nascimento / tenor saxofone (1, 3, 7 & 8), flute (2, 7 & 8), tin whistle (1)
Felippe Figueiredo / tenor saxofone, soprano saxofone (4)
Edu Miranda / mandolin (4), cavaquinho (3)
Andreia Vaz / violin, viola (1, 6 & 8)
Samuel Santos / cello (1, 6 & 8)
Carlos Menezes / doublebass (1, 2, 6 & 8)
Victor Zamora / piano (7)
Rodrigo Lino / baritone saxofone (8)
João Rasteiro / tuba (4 & 8)
Flávio Bolieiro / accordion (5, 6)
Grupo Cantares de Évora (5)
Duarte Farias / voice (5)
Duarte Gato / voice (5)
José Saruga / voice (6)
Mariana Caeiro / voice (1)
Beatriz Lopes / voice (4)

Um comentário:

  1. Muito bom. Também disponível em meu blog https://elemento---musical.blogspot.com/2024/05/mario-lopes-quimera-2024.html

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