Para definir a proposta da banda, usarei das
palavras na contracapa do encarte.
“O cancioneiro de nossos dias é um narrador de
vários mundos. Mas como transformar toda essa matéria-prima que nos cerca em
música? Inspirado na canção popular, desde a tradição oral aos experimentos que
uniram o Jazz e o Rock à MPB, a MARCENARIA percorre campos, caatingas e ruas da
metrópole”.
Três de seus integrantes, Anderson Ziemmer, Elton
Amorim e Renato Amorim faziam
parte de outro grupo, COSMO DRAH, também paulista. Como eles tinham essa
experiência, e um considerável trânsito como músicos de apoio de nomes de peso
da MPB, quando tiveram a idéia de formar outro grupo, convidaram pessoas
qualificadas que estivessem de acordo com a proposta musical.
As idéias musicais que os nortearam são uma
combinação inovadora. Os vocais têm um sabor rural, lembram também ZÉ RAMALHO e
algo dos MUTANTES em início de carreira. A meu ver, as harmonias vocais e as
letras são um dos pontos altos do disco. Inclusive, percebo na 1ª faixa que as
harmonias vocais ditam as harmonias musicais. Portanto, nesse sentido, não há muita
complexidade instrumental nessa faixa. A complexidade está mais nos arranjos,
pois a quantidade de instrumentos usados é impressionante, sendo que boa parte
deles não costuma constar em grupos de rock progressivo.
Musicalmente não prezam muito pelas melodias, me
lembrando também ZAPPA nesse sentido. A 3ª, a 2ª e a 1ª música se parecem
bastante. Na 4ª faixa, “Vire o disco!”, a pegada fica levemente pesada, mas no
geral também é parecida com as músicas anteriores. A faixa posterior também
segue a mesma linha. Esse é o grande problema desse disco, falta de
versatilidade e variedade. Portanto, têm uma proposta original, singular, mas
que se esgota em si mesma, pois ficam quase sempre só na mesma musicalidade.
Salvo algumas exceções: o trabalho do baixo e do triângulo em “Bruxismo” estão
diferenciados. “Teste da Viola” é todo instrumental e tem maior diversidade.
Interessante ver esse instrumento, a viola, sendo executado de um jeito um
pouquinho mais pesado. E é divertido quando no finalzinho dizem “é isso aí, acho
que é isso aí, né?” e “pode pá” (pá deve querer dizer pode selecionar essa
mixagem como a que vai pro disco). “Fusa Roceira”, a 8ª faixa, até que promete,
com uma introdução bonita e melodiosa, trazer alguma complexidade à obra.
Contudo, infelizmente volta para aquela mesma sonoridade do restante do álbum.
Usam bastante triângulo, o que parece ser um
fagote, e sanfona. Tem também uma flauta bastante presente em várias ocasiões.
Lançado em 2017, é o único trabalho deles.
Gosto do bom humor das letras. Na primeira música, chamada “Intro”, diz:
“E se pôs a relembrar
Tudo o que aconteceu
Quando então saiu de si
em sua Marcenaria
[...]
Compôs canções para cantar
com os seres que habitam por lá”
Na 2ª faixa uma parte diz:
“Lei de Newton debaixo da castanheira”
“Cuidado com os ouvidos, eles podem ter paredes”
“É hora de virar o disco, esse lado já se acabou”
[...]
“Seguir e tocar pra frente,
já não há mais ninguém
que possa fazer isso por você”
E em “Vire o disco!”:
“Cuidado com os ouvidos,
eles podem ter paredes.
[...]
É hora de virar o disco,
É hora de tocar pra frente
É hora de parar de falar “da hora” pra tudo”
“Fusa Roceira” começa com a seguinte frase:
“Essa vida é uma inequação
do décimo terceiro grau”
E a faixa seguinte, “Chuva”, expressa:
“Oh chuva Oh chuva...
Ando meio empoçado,
tá difícil de escorrer,
desse marasmo”
Além disso, há uma fabulosa criatividade e senso
poético nas letras. Juntamente com o fato de que fazem referências a
brasilidades, como Folia de Reis, rinha de galo, pé de buriti, vale dos
Mapinguaris, é por tudo isso que considero as letras e vocais o principal
atrativo desse disco.
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