domingo, junho 23

HYPNO5E ● Alba – Les hombres errantes ● 2018 ● França [Prog Folk]


Formado em Montpellier, o ano de 2004, por Emmanuel Jessua e Thibault Lamy. Ambos são fascinados por cinema, por isso a dedicação do grupo pela produção visual associada às composições. Sua classificação no Progarchives é como uma banda de Metal Post/Experimental. Confesso que não conheço o termo, para poder concordar ou discordar. Eu classificaria como Prog Metal. Os outros discos. Pois o objeto dessa resenha não tem a ver nem com um (Metal Post/Experimental), nem com o outro (Prog Metal). É Prog Folk com violão(ões) em abundância. Nessa obra, Jessua traz para as músicas muito das influências culturais e musicais recebidas na Bolívia, onde passou a sua adolescência, e no México, onde passou parte de sua juventude.

Esta resenha faz algumas observações gerais sobre o álbum, e doravante tece comentários faixa por faixa.

A minha primeira observação é sobre algo que realmente admiro numa banda: a sua capacidade de fazer um álbum diferente do seu estilo habitual. Como dito acima, "Alba – Les hombres errantes" é um esforço Progressivo Sinfônico, às vezes pastoral, às vezes eclético. Radicalmente distinto de seus outros lançamentos.

Há uma boa distribuição e quantidade precisa de narração e canto, a maior parte em inglês. Mas também fazem esplendidamente bastante uso do espanhol e do francês. Como em seus trabalhos anteriores. Mas desta vez não há gritos ou cantos guturais em lugar nenhum, o que ocasionalmente acontece nos outros álbuns. Com muita sensibilidade e maturidade, os instrumentos dão espaço entre si e aos vocais. Portanto, as notas e harmonias estão bem nítidas e disponíveis ao ouvinte, algo que muitas bandas de prog metal têm dificuldade de fazer. O clima é muito bom ou até brilhante em todas as composições.

A primeira faixa começa com violão, narrações e o que parece um cruzamento entre theremin e cítara; talvez seja gerado por uma combinação de charango e violão, e/ou por engenharia de som. Incrível. Quando o vocalista começa a cantar, é em inglês; aí já não é tão incrível, uma das raras ocasiões em que os vocais não estão à altura da musicalidade. A execução possui uma cadência que permite ao ouvinte acompanhar e absorver cada nota.

Os vocais em espanhol apresentam a próxima faixa. O ritmo não é tão absorvente e memorável, chega até a ser um pouco repetitivo. Entretanto, o canto é muito intenso. Uma melodia fabulosa no violão é tocada no meio da música. O final da faixa apresenta um clima sombrio com narração em francês.

A terceira faixa tem 2min. Desenvolve melodias suaves e lentas no piano, e o que parecem alguns efeitos de slide na guitarra. Vai muuuito fundo no meu coração. Maravilhosa.

A faixa 4 inicia com o que parece ser um contrabaixo, com tons graves/fortes. Um violão com som metálico dialoga com uma fabulosa narração feminina, em espanhol. Parece evocar memórias dolorosas. Quando chega o segundo violão, eles iniciam um ritmo estimulante. Mudanças inesperadas de harmonias e tons acontecem em todos os instrumentos. A bateria aqui tem mais densidade e aceleração. Espetacular.

A próxima faixa não é tão criativa e divertida quanto as duas anteriores, e não parece se encaixar muito bem como continuação do álbum. Considerando que este disco tem uma extensão de 74 min, se esta faixa fosse excluída (ou devidamente editada/resumida e incluída na faixa anterior) talvez a obra como um todo funcionasse melhor.

Que harmonias surpreendentes são executadas na 6ª faixa! É até difícil descrever, mas garanto que você ouvirá muitas mudanças, sem sobressaltos, de harmonias e cadências. Acrescento também que eles usam todos os instrumentos acústicos de cordas, e sua técnica está no auge nesta parte do disco. Os vocais em inglês são ainda melhores. Tudo isso junto, com uma narração melancólica em espanhol, não me deixa dúvidas de que nesse momento merecem nota 1000.

Um sabor latino está presente na 7ª faixa. Uma harmonia suave e notas comedidas porém alegres fazem desta composição de 3 minutos um contraponto ao tom introspectivo e melancólico de muitos trechos anteriores.

A próxima faixa soa meio Post-Rock. Algumas lindas frases no violão e uma bateria e canto em evolução proporcionam um clima agradável a essa música.

Misturando Música Eletroacústica com violão, a breve 9ª faixa apresenta outra faceta das qualidades criativas da banda. Muito bom.

A última faixa é a mais longa do álbum. A introdução é realizada apenas com violão e voz. É um pouco repetitivo e confuso. Quando algumas camadas são adicionadas com outros instrumentos, os fraseados e harmonias ficam um pouco melhores. A partir da metade, o violão e a bateria voltam a ser repetitivos. O final desta composição parece outra faixa. O resultado final é meio estranho.

Pela originalidade da proposta, centralizando as composições no violão, e as combinações que conseguem com bateria e vocais, esse disco tem lugar cativo no meu coração.

highlights ◇ ● 

Tracks:

01. Who Wakes Up from This Dream Does Not Bear My Name (11:10)

02. Cuarto del Alba (7:11)

03. L'ombre errante (2:07)

04. Night on the Petrified Sea (10:58)

05. The Wandering Shadows (7:33)

06. Los Heraldos Negros (10:21)

07. Ojos Azules (3:06)

08. Calling (4:08)

09. Agua (1:59)

10. Light of Desert and the Shadows Inside (15:33)

 

Time 74:06

 

Musicians (according to site rateyourmusic):

- Emmanuel Jessua / guitar, acoustic guitar, vocals, charango, portuguese guitar

- Jonathan Maurois / guitar

- Gredin / bass

- Théo Bégue / drums

- Chris Edrich / mixing

 

Releases information:

Label: Pelagic Records

Format: CD, Digital, Vinyl

April 6, 2018



Discography:

2004 H492053. CD-r não oficial lançado pelo grupo.

2007 Des deux l'une est l'autre.

2012 Acid Mist Tomorrow.

2016 Shores of the abstract line.

2018 Alba – Les hombres errantes.

2019 A distant (dark) source.

2021 A distant dark source experience (live).

2023 Sheoul.

 

Filme.

“Alba – Les hombres errantes”. Realização, montagem e produção por Emmanuel Jessua. Filmado na Bolívia. Encontra-se no site da banda. Pouquíssimo material das músicas do disco de mesmo título são usados na película. Por conseguinte, são trabalhos independentes, unidos somente pelo mote central.


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