Esta resenha faz algumas
observações gerais sobre o álbum, e doravante tece comentários faixa por faixa.
A minha primeira observação é
sobre algo que realmente admiro numa banda: a sua capacidade de fazer um álbum
diferente do seu estilo habitual. Como dito acima, "Alba – Les hombres
errantes" é um esforço Progressivo Sinfônico, às vezes pastoral, às vezes
eclético. Radicalmente distinto de seus outros lançamentos.
Há uma boa distribuição e
quantidade precisa de narração e canto, a maior parte em inglês. Mas também
fazem esplendidamente bastante uso do espanhol e do francês. Como em seus trabalhos
anteriores. Mas desta vez não há gritos ou cantos guturais em lugar nenhum, o
que ocasionalmente acontece nos outros álbuns. Com muita sensibilidade e
maturidade, os instrumentos dão espaço entre si e aos vocais. Portanto, as
notas e harmonias estão bem nítidas e disponíveis ao ouvinte, algo que muitas
bandas de prog metal têm dificuldade de fazer. O clima é muito bom ou até brilhante
em todas as composições.
A primeira faixa começa com
violão, narrações e o que parece um cruzamento entre theremin e cítara; talvez
seja gerado por uma combinação de charango e violão, e/ou por engenharia de
som. Incrível. Quando o vocalista começa a cantar, é em inglês; aí já não é tão
incrível, uma das raras ocasiões em que os vocais não estão à altura da
musicalidade. A execução possui uma cadência que permite ao ouvinte acompanhar
e absorver cada nota.
Os vocais em espanhol apresentam
a próxima faixa. O ritmo não é tão absorvente e memorável, chega até a ser um
pouco repetitivo. Entretanto, o canto é muito intenso. Uma melodia fabulosa no
violão é tocada no meio da música. O final da faixa apresenta um clima sombrio
com narração em francês.
A terceira faixa tem 2min.
Desenvolve melodias suaves e lentas no piano, e o que parecem alguns efeitos de
slide na guitarra. Vai muuuito fundo no meu coração. Maravilhosa.
A faixa 4 inicia com o que parece
ser um contrabaixo, com tons graves/fortes. Um violão com som metálico dialoga
com uma fabulosa narração feminina, em espanhol. Parece evocar memórias
dolorosas. Quando chega o segundo violão, eles iniciam um ritmo estimulante.
Mudanças inesperadas de harmonias e tons acontecem em todos os instrumentos. A
bateria aqui tem mais densidade e aceleração. Espetacular.
A próxima faixa não é tão
criativa e divertida quanto as duas anteriores, e não parece se encaixar muito
bem como continuação do álbum. Considerando que este disco tem uma extensão de
74 min, se esta faixa fosse excluída (ou devidamente editada/resumida e
incluída na faixa anterior) talvez a obra como um todo funcionasse melhor.
Que harmonias surpreendentes são
executadas na 6ª faixa! É até difícil descrever, mas garanto que você ouvirá
muitas mudanças, sem sobressaltos, de harmonias e cadências. Acrescento também
que eles usam todos os instrumentos acústicos de cordas, e sua técnica está no
auge nesta parte do disco. Os vocais em inglês são ainda melhores. Tudo isso
junto, com uma narração melancólica em espanhol, não me deixa dúvidas de que
nesse momento merecem nota 1000.
Um sabor latino está presente na
7ª faixa. Uma harmonia suave e notas comedidas porém alegres fazem desta
composição de 3 minutos um contraponto ao tom introspectivo e melancólico de muitos
trechos anteriores.
A próxima faixa soa meio Post-Rock.
Algumas lindas frases no violão e uma bateria e canto em evolução proporcionam
um clima agradável a essa música.
Misturando Música Eletroacústica
com violão, a breve 9ª faixa apresenta outra faceta das qualidades criativas da
banda. Muito bom.
A última faixa é a mais longa do
álbum. A introdução é realizada apenas com violão e voz. É um pouco repetitivo
e confuso. Quando algumas camadas são adicionadas com outros instrumentos, os
fraseados e harmonias ficam um pouco melhores. A partir da metade, o violão e a
bateria voltam a ser repetitivos. O final desta composição parece outra faixa.
O resultado final é meio estranho.
Pela originalidade da proposta,
centralizando as composições no violão, e as combinações que conseguem com
bateria e vocais, esse disco tem lugar cativo no meu coração.
Tracks:
01. Who Wakes Up from This Dream Does Not Bear My Name
(11:10)
02. Cuarto del Alba (7:11)
03. L'ombre errante (2:07)
04. Night on the Petrified Sea (10:58)
05. The Wandering Shadows (7:33)
06. Los Heraldos Negros (10:21)
07. Ojos Azules (3:06)
08. Calling (4:08)
09. Agua (1:59)
10. Light of Desert and the Shadows Inside (15:33)
Time 74:06
Musicians (according to site rateyourmusic):
- Emmanuel Jessua / guitar, acoustic guitar, vocals,
charango, portuguese guitar
- Jonathan Maurois / guitar
- Gredin / bass
- Théo Bégue / drums
- Chris Edrich / mixing
Releases information:
Label: Pelagic Records
Format: CD, Digital, Vinyl
April 6, 2018
Discography:
2004 ●
H492053. CD-r não oficial lançado pelo grupo.
2007 ●
Des deux l'une est l'autre.
2012 ●
Acid Mist Tomorrow.
2016 ●
Shores of the abstract line.
2018 ●
Alba – Les hombres errantes.
2019 ●
A distant (dark) source.
2021 ● A
distant dark source experience (live).
2023 ●
Sheoul.
Filme.
“Alba – Les hombres errantes”.
Realização, montagem e produção por Emmanuel
Jessua. Filmado na Bolívia.
Encontra-se no site da banda. Pouquíssimo material das músicas do disco de
mesmo título são usados na película. Por conseguinte, são trabalhos
independentes, unidos somente pelo mote central.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente e Participe