Três anos se passaram antes que PIERROT LUNAIRE gravasse e lançasse o sucessor de seu álbum de estreia. Eles retornaram como uma banda totalmente remodelada, com a saída do guitarrista Caporaletti e a extraordinária mezzo-soprano Jacqueline Darby. "Gudrun" é um álbum que se afasta dos reinos do Progressivo melódico bucólico com um leve toque dissonante; agora, o repertório é projetado para desafiar a estrutura e as convenções, a fim de criar uma jornada sonora liderada pelas voláteis mãos dominantes da surpresa, da experimentação radical e da forma livre. A ligação entre todas as faixas é marcada pelo clique de uma câmera fotográfica, como se cada número do repertório fosse uma espécie de cenário imortalizado pela máquina e transformado em lembrança permanente. Se o álbum anterior era um catálogo de reflexões sobre o mundo interior, agora Stalteri, Chiocchio e Darby voltam os olhos e olham o mundo em seu esplendoroso caos e facetas multicoloridas. A faixa-título de 11 minutos inicia o álbum com uma grande quantidade de camadas de sintetizador e ornamentos sequenciados, sobre os quais o canto de Darby, linhas de piano, guitarras tempestuosas e algumas outras coisas ocasionais deixam sua marca em um amálgama ousado. Se você consegue imaginar mentalmente uma mistura de Klaus Schulze, RIO sem bateria e operetas de Brecht, então você pode ter uma idéia. Em nítido contraste, agora vem um sutil piano noturno intitulado "Dietro il Silenzio", que parece bastante inspirada em Satie: uma peça realmente linda onde os vazios silenciosos são tão importantes quanto os sons reais do piano.
O número seguinte é um canto em duas partes exibido em paisagens sonoras perturbadoras de guitarra e sintetizador: no meio, um piano e uma bateria de conga revisitam a linha de Darby com um ar de simplicidade que parece retratar algum tipo de alegria espirituosa. "Gallia" é um número escrito por Darby, principalmente uma vitrine para seu material operístico dissonante bem elaborado, enquanto seus companheiros mais uma vez se entregam a um fundo de dissonâncias aleatórias na guitarra elétrica e no sintetizador. "Giovane Madre" é o número mais sinfônico (ou menos antissinfônico). Consiste basicamente em um motivo recorrente e atraente em órgão e sintetizador, solidamente fundado em um padrão 6/8 estabelecido pelo baixo de Chiocchio e pelo baterista convidado Massimo Buzzi; em algum lugar no meio, um tema suave e alegre do tipo renascentista entra abruptamente, criando uma tensão estranha que desafia diretamente sua própria beleza delicada. Simultaneamente, você pode ouvir Darby sussurrando ou rindo em alguns lugares. A estranheza nunca acaba. "Sonde in Profonditá" começa com o som de um antigo discurso de rádio, acompanhado por um tênue e evocativo tema de órgão, com cítara, sintetizador e violão proporcionando algumas cores adicionais até que tudo desapareça sob as ondas quebrando. "Morellia" começa com um solo de piano de inspiração barroca, alternando com uma linha melódica de cítara renascentista: depois vem Darby, junto com o piano, sintetizador de cordas, baixo e bateria (mais uma vez, o convidado Buzzi faz uma aparição), entregando o passagem mais comovente do álbum. Essa mesma estrutura é reiterada, até que um tema de piano de cabaré acompanha a risada dramática de Darby. Esta peça é inescrutável, mas consegue comover o coração do ouvinte de uma forma que ele não consegue compreender totalmente. Finalmente, "Mein Armer Italiener" encerra o álbum com uma combinação sucessiva de paródia de marcha militar, Rock psicodélico, material pastoral, cânticos de slogans - tudo incluído num ambiente de humor dadaísta radical que pode de alguma forma nos lembrar das peças mais teatrais de Zappa. Uma gravação prog excelente, mas não recomendável devido à sua natureza massivamente enigmática: de qualquer forma, "Gudrun" merece ser considerado um clássico do lado mais experimental do Rock Progressivo dos anos 70.
Tracks:
1. Gudrun (11:27)
2. Dietro il silenzio (2:35)
3. Plaisir d'amour (4:43)
4. Gallia (2:11)
5. Giovane madre (3:47)
6. Sonde in profondit (3:33)
7. Morella (5:01)
8. Mein Armer Italiener (5:15)
Time: 38:32
CD-only bonus tracks:
9. Gudrun (previously unreleased) (6:48)
10. Giovane madre (previously unreleased) (3:48)
Musicians:
- Arturo Stalteri / piano, organ, spinet, cembalo, synth, glockenspiel, acoustic guitar, recorder, tambourine, violin
- Gaio Chiocchio / electric & acoustic guitar, mandoline, harpsicord, synth, Shaj Baja, zither tirolese, sitar, bell
- Jacqueline Darby / voice
- Massimo Buzz / drums (5,7,8)
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