quarta-feira, janeiro 18

SOM NOSSO DE CADA DIA ● Snegs ● 1974 ● Brasil [Eclectic Prog] + SOM DE PESO by Bruno Ascari


Muitas vezes chamado de "O Emerson, Lake & Palmer" brasileiro" (devido à formação similar sem guitarra), o SOM NOSSO DE CADA DIA tem o início de sua história com o baixista Pedro Augusto Baldanza  (Rio Grande do Sul, 6 de março de 1953 - São Paulo, 28 de outubro de 2019), mais conhecido como Pedrão. Por volta de 1968, 1969 se muda de Porto Alegre para São Paulo e morando em Ribeirão Pires conheceu Odair Cabeça de Poeta, criando o grupo ENIGMAS e começaram a fazer alguns bailinhos pela região do ABC Paulista, chegando até mesmo a gravar um compacto. Pouco tempo depois conheceram OS NOVOS BAIANOS virando a banda de apoio deles, durante cerca de um ano e meio. Pedro Trabalhou com Walter Franco por volta de 1972 e depois com a banda PERFUME AZUL DO SOL gravando o disco "Nascimento" em 1974. Nessa mesma época conhece Manito (teclados, violino, sopros e vocais, uma lenda no Rock Brasileiro tendo sido membro d’OS INCRÍVEIS), que lhe apresenta Pedrinho Batera (bateria, percussão e vocais). Após um período de reclusão e ensaios, estava formada a banda SOM NOSSO DE CADA DIA. Conseguiram um contrato com a gravadora Continental onde lançaram seu primeiro e clássico álbum "Snegs" em 1974. Fizeram muitos shows na época do lançamento do disco, entre 1974 e 1975, incluindo a abertura dos shows do Alice Cooper no Brasil. 

Gravado em menos de uma semana, "Snegs" contém verdadeiras pérolas do Progressivo nacional, como “Sinal da Paranóia”, “O Som Nosso de Cada Dia”, “Snegs de Biuffrais”, “Massavilha” (um show de Manito nos teclados, aliás), “A Outra Face”, “Direccion de Aquarius”, sem contar o rockão “Bicho do Mato”. Manito tocou simplesmente quase todos os instrumentos, exceto bateria e baixo. Os sintetizadores, teclados e pianos que pontuam quase todas faixas são dele, além dos violinos, saxes e flautas. Mas Pedrinho também faz um ótimo trabalho compondo a cozinha rítmica e nos vocais do álbum.

O som do grupo, que lançara seu disco pela Continental, chamou a atenção dos responsáveis por trazer Alice Cooper para uma turnê de shows no Brasil. E o SOM NOSSO foi convidado para fazer a abertura para o roqueiro estadunidense em cinco apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo. Tocaram para um público estimado em 140 mil pessoas no total e levaram a plateia à loucura. Quando Manito tocava os primeiros acordes de “Massavilha”, a massa roqueira ficava boquiaberta e alucinada com o que via e ouvia. Há quem diga que os shows do SOM NOSSO... foram até melhores que os de Alice. Mas pode ser só lenda…

Naquela época, devido ao sucesso de seus shows, a gravadora queria que a banda abrisse o seu leque sonoro e vendesse mais discos. Em 1975 a Black Music e a Disco Music começavam a se tornar mais e mais populares no Brasil e a Continental estava apostando nesse som. A banda lutou contra essa ideia, mas eles estavam sob contrato e depois de muita discussão e pressão, acabaram cedendo. Ainda em 1975 o grupo estava trabalhando em uma suíte de 20 minutos chamada “Amazônia” e muitas músicas novas (Progressivas) foram tocadas em seus shows na mesma época (como mostra o disco ao vivo "A Procura da Essência", lançado em 2004 com faixas gravadas entre 1975 e 1976). No fim, toda a discussão com a gravadora desgastou o grupo e o material Prog que vinha sendo apresentado ao vivo seria descartado, por essas e por toda a pressão pra ser um sucesso comercial fizeram Manito deixar a banda no final de 1975. "Snegs" e sua genialidade, é considerado um clássico absoluto em se tratando de Prog no Brasil.

Abrindo o disco o SOM NOSSO explora muito terreno nos seis minutos de "Sinal da Paranóia". É um Rock pesado alimentado pelo agitado órgão Hammond, guitarras acústicas estridentes e vocais de grupo espirituosos com momentos de falsete mais doce na liderança, antes que a peça não apenas se transforme em um interlúdio espacial, mas direto para um frenético thrash de violino escaldante sobre baixo ruidoso, selvagem bateria ruidosa e muito sintetizador! "Bicho do Mato" é um Pop-Rock contagiante, semelhante ao alemão BIRTH CONTROL, dominado pelo órgão Hammond, que salta junto com um vocal barulhento e um ímpeto de bater os pés com um final espacial semelhante ao de ELOY. "O som nosso de cada dia" é imprevisível e dispara em várias direções ao mesmo tempo, oferecendo tudo, desde um teclado bombástico delirante, passagens mais suaves e sonhadoras e sax flutuante tratado nos minutos finais.

A adorável e profundamente onírica "Snegs de Biufrais" abre o segundo lado com guitarras vibrantes, flauta suave e vocais de grupo delicados, mas "Massavilha" aumenta o Prog para onze com uma introdução estendida de explosões borbulhantes de Moog e espirais de sintetizador em cascata ao longo das linhas do primeiro disco solo de Rick Wakeman "The Six Wives of Henry VIII" antes de se estabelecer em uma melodia mais romântica com harmonias suaves. A melancólica e misteriosa "Direccion de Aquarius" troca os enérgicos momentos instrumentais por ambiciosas harmonias de várias partes e guitarras elétricas sombrias que retêm um tom mais sombrio e inquietação geral. "A outra face" fecha o disco e funde longos ataques de Jazz suave salpicado de Hammond passeando ala ATOMIC ROOSTER, solos de guitarra reflexivos de Blues à deriva e sax ondulante.

Em algumas partes a execução é mais emocionante e memorável, mas "Snegs" tem uma resistência melódica sem ser obviamente direcionada ao rádio, e é sobrecarregada com intermináveis ​​sons espaciais. cor do teclado, tornando-o uma pequena obscuridade atraente, mas negligenciada, com tanto a oferecer de uma banda muito boa. Definitivamente para aqueles fãs de música Progressiva que procuram preencher sua coleção com trabalhos mais raros e subestimados que muitas vezes passam despercebidos, e a recente reedição da Moshi Moshi Produtora deste ano significa que o álbum nunca soou melhor!

RECOMENDADO!
                                        highlights ◇
Tracks:
1. Sinal da Paranoia (Cimara-Pedro Baldanza)
2. Bicho do Mato (Gastão Lamounier)
3. O Som Nosso de Cada Dia (Paulinho-Pedro Baldanza)
4. Snegs de Biuffrais (Paulinho-Pedrinho-Pedro Baldanza)
5. Massavilha (Paulinho-Pedro Baldanza)
6. Direccion de Aquarius (Paulinho-Pedro Baldanza)
7. A Outra Face (Paulinho-Pedro Baldanza)
Time: 37:54
Bonus Track CD:
8. O Guarani (Carlos Gomes) *
Time: 44:25 

Musicians:
- Antônio Seixas "Manito": Hammond, MiniMoog, clavinet, piano, flute, alto saxophone, violin, backing vocals
- Pedro Baldanza "Pedrão": bass, acoustic guitar, lead vocals
- Pedrinho Batera: drums, percussion, lead vocals
With:
- Marcinha: backing vocals

MP3 320K link 2
CRONOLOGIA

Ao Vivo no Aquarius (1976

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