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segunda-feira, julho 14

FULGUROMATIC ● Fulguromatic ● 2025

Artista: FULGUROMATIC 
País: França
Gênero: Canterbury/Eclectic Prog
Álbum: Fulguromatic 
Ano: 2025
Duração: 43:22

Cara leitora e caro leitor, o que você busca quando consulta um blog como esse? Ou um site como o Progarchives e semelhantes? Um novo som? Ficar atualizado? Saber mais sobre seus discos e bandas preferidas? É difícil para pessoas como eu (ou como nós, que postamos na web) descobrir isso, pois as pessoas que publicam nos blogs e sites não terão, a princípio, acesso às impressões dos leitores. Isso mudou um pouco com as redes sociais, pois os comentários nas postagens de instagram e facebook permitiram esse "diálogo", ou meio-diálogo.
Sempre leio todos os comentários que fazem em cima de minhas postagens no Facebook (é a rede social na qual mais me envolvo), e dependendo da postagem de outra pessoa, lerei também alguns dos comentários em cima do referido conteúdo. Uma das impressões que tais leituras deixaram em mim é que há uma quantidade grande de ouvintes de progressivo cujas narrativas giram em torno do mesmo tema: não há nada de novo no front, tudo que foi feito dos anos 80 para cá é uma cópia, ruim ou boa, de grupos dos anos 70. Por outro lado, outra impressão que tive é de que para a imensa maioria dos ouvintes o que importa mais - ou talvez seja melhor dizer, a única coisa que importa - é a música. Bem, eu não me incluo plenamente em nenhum dos dois grupos, e esse fato tem a ver diretamente com minha avaliação da obra em tela. Do ponto de vista musical, não há nenhuma grande novidade, portanto o grupo daqueles que não ouvem coisa boa fora dos anos 70 não deve gostar do material. Quem não se inclui nesse grupo, e no caso tem uma visão mais positiva do progressivo pós-70, talvez goste desse disco aqui. Mas ainda assim não devem ter a mesma visão que tenho dessa obra. Explico: vez ou outra me aventuro a pesquisar mais a respeito da banda e/ou do lançamento, até mesmo para poder publicar nesse blog. E quando o faço, em algumas dessas vezes, descubro fatos incríveis; para mim. Aliás, de certo forma, agradeço ao administrador do blog, Fábio Costa, por essas ocasiões. Pois nos outros dois lugares onde publico resenhas, não sou estimulado, como acontece aqui, a me embrenhar nas entranhas e bastidores do álbum. Então, voltando ao disco, descobri que a dupla que a realizou faz parte de um coletivo chamado Filutherie, que, segundo a descrição no site deles, "é um coletivo de artistas, músicos e atores, unidos em torno da luteria selvagem ou experimental. Desenvolvendo diversos projetos musicais (concertos, espetáculos infantis, danças e instalações em tempo real), buscamos promover instrumentos criados a partir de materiais reciclados e a prática musical e instrumental". Fazem suas performances em escolas, unidades de saúde, associações, etc, usando objetos como lápis de cor, pedaços de abajur, luvas, todo tipo de canos, chaves, jornal, botões, conchas, diferentes tipos de caixas. Você pode conhecer melhor esse projeto no site https://filutherie.fr/association.html. Onde se pode saber mais (no meu caso, com o Google tradutor) sobre a iniciativa, os ateliês que organizaram e o que já conquistaram/realizaram/reciclaram. Tudo isso junto é o que me encanta tanto a respeito dessa obra, portanto a música é apenas um dos aspectos.
Até o próprio conceito de multi-instrumentalidade, no caso do FULGUROMATIC, ganha novas dimensões nesse caso. Pois além do experimentalismo que tais idéias invariavelmente convocam, eles adquirirão certo domínio de novas estéticas, novos horizontes, e acrescentando mais alguns tons ao leque de sons da música. Portanto, esse projeto não é apenas mais uma ação de reciclagem, re-utilização e reaproveitamento (aliás, absolutamente necessárias); é também um modo diferente de olhar e sobretudo de ouvir o cotidiano, com mais arte e sensibilidade.
Com relação aos dois músicos, não consegui maiores informações a respeito. Somente que o baterista também faz parte de um grupo belga chamado ARLETTE, e que o disco foi lançado por um selo espanhol que também lançou o primeiro trabalho do TOM PENAGUIN, entre outros ótimos lançamentos. E que só lançaram esse álbum até o momento (julho de 2025).
A primeira faixa traz uma proposta poli-rítmica que encontra sua parte melódica na flauta que vai se embrenhando nos espaços disponíveis. Um som que parece uma mistura de ukulele com baixo vai pontuando breves notas, e ao fundo, bem baixinho, tem um som que me fez pensar numa chaleira apitando. Por vezes mudam os arranjos. Música envolvente. Depois de explorar um pouco essa possibilidade, fazem uma pequena transição meio prog eletrônica, curta, antes de partir para algo levemente mais agressivo, e com compassos mais complexos. Daí entram vocais e sintetizadores de forma mais robusta. Algumas camadas vão se interpondo umas sobre as outras. Apesar de terem achado excelentes harmonias, de um modo que poderiam mantê-las até o final da música, isso não dura muito, e a flauta faz a transição para outra proposta, que vai sendo construída aos poucos, com a bateria e sintetizador, ambos ainda mais inventivos agora.
A faixa seguinte começa com um som diferente de sintetizador, que se junta com a bateria em compassos bem interessantes. Os vocais estão diferentes, participam pouco e estão com filtro e meio sussurrados. Vão entrando outros instrumentos, como a flauta, xilofone, e os pratos começam a ser mais explorados também. Por um bom tempo seguem, assim, combinando esses elementos. Pouco depois da metade mudam bastante os arranjos, tornando a composição mais acústica. Essa parte dura pouco, indo para a parte inicial, mas dessa vez fazem um pouco mais de mudanças de harmonias durante o processo, e bem no finalzinho ficam sutilmente mais acelerados.
Na 3a faixa, que tem um pouco de senso de humor, usam objetos inusitados para fazer as percussões. Identifico diferentes tipos de copos e talheres. A bateria também está presente. Apesar de ser uma música curta, nem chega a 2min, o jeito suave e rítmico de cantarem, junto com a execução meio naif da flauta, tudo isso faz desse trechinho uma delícia. E o final, que se assemelha à música morrendo, é definitivamente a cereja nesse bolinho.
O início incomum da próxima composição, com um som assemelhado ao de uma máquina, ou um vinil sendo tocado de trás para frente. Um piano meio aleatório torna a composição menos caótica. Aí entra numa execução bem krautrock, hipnótica e repetitiva. Mas que não fica chata pois os vocais estão bem trabalhados, e há regularmente viradas interessantes na bateria e xilofone. Um pouquinho antes do meio fazem um compassso mais rápido, antes de voltar para a proposta kraut. Os vocais ficam mais elaborados, com duas pessoas cantando. As letras devem ser interessantes, mas não entendo nada de francês, pois falam recorrentemente de Einstein. Bem, os vocais vão ocupando cada vez mais espaço. No final mudam bastante os arranjos. Achei interessante fazerem uso desse sub-gênero alemão da forma como realizaram, pois no contexto geral não ficou enfadonho.
Os timbres usados no início da 5a faixa lembram algumas instrumentações de meados dos anos 70 da banda MAGMA. Contudo, FULGUROMATIC acrescenta, aqui e ali, umas camadas à composição que fazem a mesma se aproximar um pouco do Canterbury; e o fato de não cantarem em língua inventada não deixa eles ficarem muito próximos ao zeuhl. Não bastassse isso, ainda trazem umas performances que pegam um pouco de art-pop e avant-jazz. Muito rico! Tudo isso antes de chegar na metade. Depois seguem por um tipo de avant-prog moribundo. É estranho e engraçado ao mesmo tempo, que parada louca, irmão! Antes de encerrarem retomam as idéias iniciais, só que dessa vez com mais celeridade, botando um pezinho no jazz-rock.
A introdução suave e ambient-made da próxima música garante ao ouvinte um momento mais relax. Linda melodia no sintetizador. Usam bastante o que acredito ser um bonequinho de borracha, muito divertido esse assobio estridente porém reconhecível. Um CARAVAN lúdico, com uma seção rítmica na linha soft-jazz. Fenomenal!
Dá uma certa emendada, por conta da semelhança nos arranjos, com a 7a música. Aliás, que entrada fabulosa: começando psicodélica, junto com um tambor militar, e um baixo groove-totaaall. As vocalizações, curtíssimas mas perfeitas, e super sintonizadas com a flauta, garantem um ambiente acolhedor. Cara, que baixo incrível. Vão aos poucos aumentando a massa sonora, mas mantendo a versatilidade nas harmonias. Aqui uma idéia geral de um estilo art-jazz-pop permeia toda a composição. Muito saboroso. Lá no final os compassos ficam mais marcados e quebrados, o que traz um vigor especial à música.
Que início arrebatador da última faixa. Timbres estupendos, seção rítmica forte, um xilofone inspiradíssimo. E aí entra uma flauta etérea, em harmonias maravilhosamente surpreendentes. Como são bem exploradas as variadas nas seções rítmicas, e nos compassos do xilofone! A música vai ganhando intensidade pouco antes de chegar na metade. As vocalizações ocupam mais espaço, inicialmente um pouco excessivas e estranhas, mas tem seus bons momentos. Nessa parte fiquei com a impressão de que usaram baldes na seção rítmica, além de outros objetos de nosso uso diário. Aí é que a composição desanda, pois fica uma espécie de avant-jazz psicodélico que não engrena.
Um defeito desse trabalho é o som abafado que acontece em muitas ocasiões.

Faixas:
01. The Sigh of a Whittled Grove (6:31)
02. The Unconceivable Curse of Atahualpa (5:19)
03. Hidden Realm (1:54)
04. Top 5 des citations d'Albert Einstein (6:58)
05. Nutriscore Z (6:44)
06. Lil' Appeau (3:44)
07. An odd Bird's Bill (4:29)
08. Grmmf (7:50)

Músicos:
- Paul Cossé / Fender rhodes, vozes, xilofone, piano, percussão, banjolin
- Lancelot Rio / bateria, baixo-sintetizador, vozes, xilofone, piano, sintetizador, percussão, guitarra
  

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