País: Brasil
Gênero: Symphonic Prog
Álbum: Fatigué
Ano: 2025
Duração: 44:56
Em 1987, no Rio de Janeiro, os estudantes Mark Pell (nome artístico), Roger da Silva e Marcelo Índio (bateria), da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, criaram o grupo VOZES DA TERRA. Pouco depois passaram a ter um membro nos teclados, Marcelo Funga. Eles mesclavam hard rock, heavy metal e rock progressivo. Por falta de bons instrumentos e local para ensaiar, duraram somente alguns meses. Entretanto, fizeram uma composição, denominada "Árvores", uma homenagem a dois amigos do grupo, Zezinho e Deco (ambos já falecidos).
Deco era namorado, à época, de Simone Assis, que em 2020 assumiria a direção artística do PEL. Após o término do VOZES DA TERRA, Roger teve uma rápida passagem pela banda de rock progressivo carioca QUATERNA RÉQUIEM; depois foi para os Estados Unidos, onde participou de diversos grupos no decorrer dos anos 1990 e 2000 (entre eles estão os SLEESTACKS, COLLIDE, OFF COLORS e HAMMERSTONE). Mark, por sua vez, integrou dois grupos: em 1987, foi guitarrista da banda de rock progressivo PROPOSTA FINAL e, dez anos depois, voltando ao posto de baixista, criou o ALMA FRIPP, que mesclava o metal e o experimentalismo com progressivo. THE PEL PROJECT (abreviação para Power, Energy and Love), embora tenha contado com recursos que não tinham nos anos 80, precisou enfrentar as dificuldades de ensaiar à distância; pois cada um dos 3 membros principais mora em uma cidade diferente. Brasília, Fortaleza e Los Angeles.
Esse é um disco conceitual, tratando de uma suíte que fala da sociedade do cansaço. A banda afirma que a maioria das composições é dos anos 80. Colocam, também, que PINK FLOYD, BLACK SABBATH, YES, KING CRIMSON, GENESIS, RENAISSANCE, QUEEN, METALLICA, IRON MAIDEN são suas principais influências.
Sigamos para as considerações sobre o trabalho. Inicia com bom fraseado no violão, logo os vocais entram, em inglês, e as peças do restante das harmonias vão se juntando. Boa marcação do baixo e bateria coesa. Daí, numa pequena mudança de arranjo, o violão fica enigmático, para em seguida entrar um solo ácido de guitarra, imprimindo um pouquinho mais de peso à composição. Percebo que a edição e mixagem não são das melhores; felizmente, isso é relativamente compensado por incrível musicalidade, e instrumentação inspirada. O baterista mostra que sabe transitar muito bem entre diferentes linguagens, e os sintetizadores sempre estão super encaixados com as propostas apresentadas.
Emenda com a 2a faixa, cujos primeiros momentos são compostos por lindos dedilhados no violão. Passa para uma massa sonora bem marcada e grandiosa. Nessa ocasião um tom mais grave nos vocais cairia muito bem, mas percebe-se que o vocalista não tem muitos recursos. Mais uma vez, o instrumental está ótimo, e o baixo faz umas viradas espetaculares. A bateria continua em alto nível. Um solo penetrante da guitarra, desempenhando com consistência umas notas bem rápidas, mas moderando na hora que entram os vocais (mais uma vez, limitados, pois deveria nesse momento aumentar um pouco o volume e/ou o timbre), ou seja, mandando bem à beça e sabendo quando e quanto espaço deve ocupar. No finalzinho há um pouco de falatório de mais de uma pessoa, um lance bem bolado e realizado.
Uma voz feminina recita um poema em português, no caso um trecho da peça Fausto, do alemão Goethe, enquanto ao fundo a guitarra e os sintetizadores vão distribuindo notas sombrias. Boa interpretação, encorpada, bom ritmo, entonações envolventes da vocalista. Lembra bastante as construções linguísticas feitas pela banda III MILÊNIO. Ao passar para a parte seguinte dessa suíte dentro da suíte, o violão com um toque country está com cara de penetra na festa: ficou estranho. E o clima muda radicalmente, tornando-se um rock mais raiz e quase celebrativo. Empreendem umas mudanças de harmonia, bem executadas, só que transparecendo um pouco de confusão no quesito composição. Entram de novo os vocais femininos em português, encerrando a 3a faixa.
Uma fala ininteligível abre a próxima faixa, que só engrena quando, um pouco antes de 1min, entra o vocalista, dessa vez apresentando uns bons graves. Tocam com fluidez um art-rock. Passam pouco depois para uma marcha, que sutilmente cresce, e pouco depois o viés rítmico muda, deixando de ser uma marcha, e todo o conjunto ganha levemente mais densidade. Belas harmonias. No fabuloso finalzinho tem um piano executado com precisão; pena que é tão curto.
A curta 5a faixa é um interlúdio bem pesado, sobretudo no baixo e bateria. Compassos inventivos e complexos.
Uau, que fraseado magnífico no início da última faixa! Arranjos soberbos sucedem, envolvendo violão, mas também violoncelo, e uma cadência deliciosa na bateria. Que, aliás, em breve acelera de leve; no momento em que entra um violino, apresentando um som bem peculiar, pois parece - também - com um saxofone. As idéias executadas pelo violino são competentemente assumidas pela guitarra. Os vocais em inglês retornam, dessa vez mais melódicos. O final junta um belo dedilhado no violão com uma guitarra solando consistentemente, enquanto a bateria vai desfilando diferentes tipos de meia-marcha.
Sólida estréia desse projeto, saindo dos clichês habituais. Se continuarem em atividade e souberem identificar e melhorar seus pontos fracos, podem se tornar grandes.
Faixas:
Act 1: The World
01. Árvores (8:22)
02. Green (9:00)
03. Eco (8:04)
I. Baccalaureus
II. Are you a milionaire?
III. Behind
IV. Remergence
Act 2: Somebody
04. Buying Time (8:24)
I. Delirium
II. The world became tilt colder
05. Impressions (1:44)
06. Dominox (9:25)
Músicos:
- Mark Pell / vocais, violão, baixo, efeitos sonoros.
- Roger da SIlva / guitarra de 6m 7 e 8 cordas, vocais.
- Simone Assis / poesia, pensamentos e visão. Coro (2). Risada na faixa 1.
Com:
- Adriano Azevedo / bateria (faixa 1).
- Alexandre Antunes / baixo acústico (6).
- DJ Mohamed Malok / efeitos sonoros (vinil/moogs).
- Francisco Calazans / backing vocals (6).
- Jan Ariel / bateria (2, 3c, 4).
- Julius Caesar / percussão (3d, 6), bateria (5,6) e efeitos sonoros (5).
- Malu Engel / efeitos vocais e recital (3a, 3d).
- Marcelo Índio / letras (3c).
- Matheus Brasil / violão (1), guitarra (4), hammond, piano, cordas, sintetizador e órgão farfisa.
- Moisés Veloso / mellotron, hammond e padshop (1), moog (1, 2)
Músicos adicionais:
- Diego Cavalcante / violino.
- Rondinelly Bezerra / violoncelo.
Coro em Green (faixa 2):
Ary Moura, César Sabino, Evandro Henrique, Jan Ariel, Julius Caesar (esse também assumiu as risadas da faixa 1), Malu Engel, Roger da Silva, Simone Assis e Xan Monteiro.
Convidados:
- Fritz Henriques / primeiro solo de guitarra (2).
- Zaíra Marques / vocais (3c).
- Luiz "Simão Bacamarte" Ferrão / vocais (4a).
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