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segunda-feira, janeiro 30

ICEBERG ● Coses Nostres ● 1976

Artista: ICEBERG
País: Espanha
Gênero: Jazz-Rock Fusion
Álbum: Coses Nostres
Ano: 1976
Duração: 48:44

Grupo formado em Barcelona em 1974, e que teve uma vida consideravelmente curta, encerrando atividades em 1979. Em termos de estilo, no primeiro disco seguiu a tendência do Progressivo Sinfônico. Do 2º disco em diante, assumiu irreversivelmente o Jazz-Rock/Fusion. 

Cabe salientar que o guitarrista começa sua carreira pelo menos desde 1965, passando por 3 bandas diferentes antes do ICEBERG. Num desses grupos, o TAPIMAN, que lançou um trabalho em 1972, encontra-se um Jazz-Rock de qualidade. E Kitflus e amigos fizeram um bom trabalho de rock psicodélico-progressivo no grupo PROYECTO A, que lançou um disco em 1970. Sancho esteve no grupo ARMADA, que lançou um disco em 1972. Somente Jordi é que não sei dizer se já tinha alguma experiência anterior ao ICEBERG.

Dos cinco discos deles, esse foi o que se tornou mais conhecido em seu país na época, dado que a faixa "Preludi i Record" era vinheta do POPGRAMA, uma das atividades da RTVE, a emissora do governo. Uma particularidade a ser apontada é que, de acordo com minhas pesquisas, essa emissora era a única via dentre as opções de telecomunicação por onde os artistas/músicos poderiam fazer lives. Outra possibilidade para os músicos se apresentarem em seu país era nos 'Teatros'.

Após uma estréia bastante influenciada pelo progressivo sinfônico inglês, o grupo muda radicalmente suas propostas artísticas. Pois musicalmente dão uma guinada radical no estilo, passando de corpo e alma para o jazz-rock fusion. Tornam-se um grupo exclusivamente instrumental. E, por fim, adotam temas e títulos inspirados em seu país e cultura.

A começar por esse trabalho. A 1a faixa mostra de cara uma guitarra ácida, muito swing na bateria. Todos os instrumentos com incrível dinamismo. Embora a faixa posterior tenha início, meio e fim, ela também emenda bem com a música que lhe precede. O que falei para a 1a, serve para a 2a faixa. Com algumas diferenças - apresentam mais versatilidade e (algo que não acontece na faixa de abertura) fabulosos jams entre guitarra e sintetizadores. Aliás, uma marca inconfundível da banda a partir de então. É muita criatividade e energia juntas! Os fraseados, tanto na guitarra quanto nos sintetizadores, são bem cativantes. Há poucas linhas melódicas; melhor dizendo, há pouca preponderância de melodias. Bem, isso é uma característica da maioria dos nomes do jazz que conheço. Na segunda parte da música, enquanto a guitarra faz a base rítmica, a bateria e baixo vão crescendo nos solos e frases, até quase chegar a uma apoteose. Cabe salientar que há um pouco de violão em momentos esparsos dessa composição. No finalzinho adotam uma linha melódica que não deu certo. Pois principalmente o baterista não acertou nem o acompanhamento, nem a altura dos pratos. Concomitantemente, retomam uns fraseados, mas não faz sentido nenhum ficar aumentando e diminuindo o volume inapropriadamente. Ou seja, parece que a música está acabando, mas ela volta. Por conseguinte, apesar dos dois primeiros terços dessa música serem fenomenais, o restante é a pior parte do disco. O início da 3a faixa tem uma proposta viajante e psicodélica. Não funciona bem, pois o baterista está mais para uma linha jazzística, e o baixista toca a esmo, sem nenhuma conexão nem com o psicodelismo, nem com o jazz-rock. Temos, pois, mais um momento de mediano a fraco no álbum. Bem, essa proposta termina, do nada. E partem para outra, totalmente diferente (pelo menos para meus ouvidos): é como se existissem duas músicas bem distintas uma da outra, só que dentro da mesma faixa. Felizmente, essa segunda parte está vários degraus acima. Um piano vai solando, e o acompanhamento rítmico é ótimo. A guitarra está espetacular quando, às vezes, assume a frente. E dessa vez a parte mais melódica, que é curta, deu certo. O finalzinho é um pouquinho estranho. Na próxima música, há uma linha melódica que abre os trabalhos. Dessa vez ela tem uma estrutura definida, que é bem definida. E se conecta com o desenvolvimento que o restante da música vai tendo. Retomam a proposta de fraseados de jazz-rock fusion, com as jams. Bem, é o que sabem fazer melhor. Cabe aí, também, sensatez e sensibilidade para saber escolher os melhores fraseados para serem os carros-chefe da composição, bem como as formas que serão usados, para não se tornarem repetitivos e não se desgastarem. Nisso eles também são super habilidosos. O fraseado na guitarra desde o início da 5a música é magnífico! E fica ainda melhor quanto mais avançam na composiçao. Os arranjos, os compassos, a vibração, tudo exala perfeição. Até a paradinha, e os fraseados que se seguem estão estupendos e cirúrgicos. Até o baixo e a bateria, que ficam ocasionalmente um pouco perdidos nas músicas pregressas, estão achando seus espaços com criatividade, firmeza e criatividade. A antepenúltima faixa começa suave. As harmonias estão levemente desencontradas, e tem momentos em que as transições entre elas não tem sentido muito menos fluidez. É uma composição rica musicalmente, entretanto foi mal executada. Só ali numa parte do meio ganha corpo e consistência com umas jams. A 7a e a última música são produto de elevadíssima inspiração tanto do baterista quanto do guitarrista. Ambos velozes e furiosos! Harmonias espetaculares, baixo marcando presença de espírito. Todos parecem tomados por uma descarga de genialidade. Há um interlúdio antes de chegar na metade, que existe para dar fôlego para eles retomarem o petardo acelerado cheio de nuances. Junto com a 5a faixa, música para entrar para a história do progressivo. E é esse nível que conseguem manter em quase todo o álbum seguinte.

Faixas:
01. Preludi i Record (2:14)
02. Nova (musica de la Llum) (8:56)
03. L'acustica (referencia d'un canvi interior) (9:10)
04. La d'en Kitflus (6:49)
05. La Flamenca Elèctrica (5:56)
06. València (8:45)
07. 11/8 "Manifest de la follia" (6:45)

Músicos:
- Joaquín "Max" Sunyer / violão & guitarra
- José "Kitflus" Mas / piano, piano elétrico, sintetizadores, clarinete
- Primitivo Sancho / baixo
- Jordi Colomer / bateria


Discografia:
1975 ● Tutankhamon
1976 ● Coses Nostres
1977 ● Sentiments
1978 ● En Directe Live
1979 ● Arc-en-ciel

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