Quando escutei pela primeira vez esse disco, achei que estivessem cantando uma parte em italiano, outra parte em latim. Não os achei no Progarchives, nem no Rateyourmusic, nem no Discogs. Mas estão no Bandcamp. Foi quando descobri que são franceses, e inventaram uma língua para esse álbum. Ao pesquisar sobre seus membros, descobri que as duas vocalistas fazem parte da formação recente do MAGMA. E que Jimmy Top, filho de Janick Top, está nessa empreitada. O estilo Zeuhl é evidente, mas eu acrescentaria que também têm uma clara proposta Avant-prog. O fato de não usarem sintetizadores de nenhuma forma contribui para se afastarem de qualquer semelhança com o Symphonic Prog.
Quero destacar que as harmonias de um modo geral são sempre supreendentes e inventivas. Quanto às harmonias vocais, são espetacularmente criativas, densas, robustas e complexas. Fazendo desse debut um discaço, na minha opinião.
Na música de abertura, os compassos rítmicos são muito firmes e inventivos, com uma pegada roqueira e Zeuhl ao mesmo tempo. Uma virada espetacular na guitarra os transporta para mudanças sutis de proposta. A guitarra também é extremamente consistente. Em um dado momento dão mais espaço para os vocais, que usam dois e até três integrantes, com combinações incrivelmente complexas e fluidas. Algo que a meu ver fica evidente já nesse momento é que buscam timbres vocais semelhantes às de um naipe de metais. Fico estupefato toda vez que escuto! Às vezes parece até que alternam as sílabas das tais palavras inventadas.
Uma virada pesada na bateria, com notas meio longas na guitarra, precede um violão autêntico no início da próxima composição. Algumas vocalizações completam essa entrada fabulosa. Os compassos continuam surpreendentes. Alguns efeitos sonoros são feitos. Não sei com que instrumentos. Uns fraseados com groove são feitos pelo baixo. Quando está perto de ficar repetitivas, as seções rítmicas dão uma guinada significativa, com mais camadas e leves mudanças de arranjos. O canto dá lugar a vocalizações polirítmicas que trazem uma pequena medida de groove.
Um violão inocente e singelo abre a 3a faixa. Uma guitarra coesa dialoga com uma bateria arrebatadora. Pouco depois a bateria sossega, e vai marcando os passos e amenizando a quantidade de viradas. Essa música não está entre as melhores da obra. Na segunda metade as vocalizações são mais líricas e mais Zeuhl. Os compassos ficam mais versáteis e ao mesmo tempo um pouco mais lentos. Ou seja, quase ficam melódicos. Fazem umas improvisações bem na linha free-jazz, antes de voltar, com um vocabulário musical amplo, ao Zeuhl. Cabe destacar que sabem iniciar e terminar as músicas. Nunca se repetem nesse sentido.
Impressionante como os vocais são sempre muito musicais, expressivos, com vários tons e combinações, na música posterior. O instrumental não tem a mesma variedade e ecletismo, sobretudo nos arranjos. Mas nem dá para sentir muita falta disso, pois os vocais não se repetem e mantêm o meu interesse. Na segunda parte dessa música ficam um pouco menos acelerados, entoando belíssimas refrões.
O início viajante, quase Space-Rock, da quinta música, é garantido pela guitarra, e pelo que parece ser um sintetizador. Os vocais entoam sons e palavras curtas. O baixo está devagar e com um pulso envolvente. As camadas vocais vão se diversificando e criando contrapontos magníficos com o decorrer da canção.
É fantástico como entoam os 'r' nas palavras cantadas no começo da próxima faixa. Aliás, já fizeram isso outras vezes. E o mesmo fizeram anteriormente com o 's' de certas palavras. Dão uma esticadinha, obtendo um efeito estupendo. Aliás, dessa vez os vocais estão ainda mais dramáticos que no restante do disco. Sobretudo porque uma das vocalistas coloca o 'aaaa' lá nas alturas. Aí entra um refrão delicioso, onde o Zeuhl encontra com o blues. Também fica divertido como usam várias vezes a palavra "dondai", título da 6a faixa do disco "Attahk", do MAGMA. Dessa vez os refrões também rimam entre si diversas vezes, outra característica peculiar dessa música. E como as seções rítmicas apresentam largas doses de swing, é uma canção bem envolvente. O solo de baixo antecede uma parte que me lembrou GENTLE GIANT.
A faixa de encerramento começa bem espiritual, com uma atmosfera mais introspectiva. Os vocais estão de acordo, até levemente melancólicos. A música vai crescendo de intensidade, antes de voltar para aquela atmosfera mais introspectiva e enigmática. As camadas vocais continuam estupendas, muito bem trabalhadas, com compassos dificílimos. O instrumental apresenta aqui mais inspiração, com constante alternância entre os instrumentos, assim como maior equilíbrio entre melodias, solos e ritmos. A guitarra está mais agitada, sobretudo mais para o final.
Só lançaram esse trabalho.
highlights ◇
01. Van Gis (4:40)
02. Bidi Zonker (3:59)
04. Barminam (4:29)
05. Garzental (3:43)
06. Zavali (5:07)
07. Sone Bagus (6:03)
Músicos:
Caroline Indjein / Vocais e Vocal Solo
Laura Guarrato / Vocais
Alexandre Indjein / Bateria, Vocais
Jimmy Top / Baixo
Thomas Baudin / Guitarras e Violão
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